Por Clênio Sierra de Alcântara
Muito estupidamente nesta
semana, enquanto eu me arrepiava a cada vídeo a que eu assistia das explosões
havidas em Beirute, a cidade que eu chamo de “fênix urbana”, tantas foram as
vezes em que ela buscou sair de escombros, quebrei a decisão, tomada meses
atrás, de não perder meu tempo discutindo com membros das hostes da República
Antidemocrática Bolsonariana.
O meu oponente, além de
bolsonariano, tinha o agravante de ser evangélico, uma combinação tão perigosa
e nociva quanto o nitrato de amônio que destruiu o porto da capital libanesa. Quando
você se põe a enumerar as torpezas e as maldades praticadas pelo senhor Jair
Bolsonaro de cara o bolsonariano já classifica você de luopetista; e, junto com
essa acusação, vem um rol dos crimes que membros dos Partidos dos Trabalhadores
(PT) cometeram; os casos de corrupção que estão vindo à tona em vários estados
no âmbito das ações de enfrentamento da pandemia; os ataques ao presidente
feitos pela Rede Globo; e as “benfeitorias” da cloroquina para “prevenir” o contágio
e até “curar” os contaminados pelo
coronavírus.
Quando eu argumentei que
nada disso redimia o senhor Jair Bolsonaro da irresponsabilidade de minimizar a
gravidade da pandemia; de sair por aí sem máscara; de participar de protestos
inconstitucionais e antidemocráticos; de incentivar o uso de um medicamento sem
respaldo da comunidade científica, bem como a invasão de hospitais e a agressão
a repórteres; e de promover a disseminação de fake news, porque isso não é postura e nem comportamento de alguém
que está comandando um país, sabem o que foi que a criaturinha doutrinada me
disse? Leiam: “Isso é opinião pessoal dele. O que importa é que ele é honesto. Tás
preocupado com postura é?”. Ao ouvir isso eu joguei a toalha consciente,
profundamente consciente, de que o senhor Jair Bolsonaro não é o mal maior. Todo
mal e toda maldade são absurdos e lamentáveis. O mal maior que está infestando
este país doente é o fato de o senhor Jair Bolsonaro, o estúpido, cruel e
desumano presidente da República fazer o que faz e continuar sendo apoiado por
milhões e milhões de indivíduos. Considero que isso é uma prova de que no mundo
existem pessoas e algo que, apenas de longe, se parece com elas.
Uma das caras, um dos
símbolos da República Antidemocrática Bolsonariana, o senhor Edir Macedo, o
homem que amealhou uma megafortuna operando “milagres” em seus milhares de templos
religiosos espalhados por tudo quanto é canto, está sendo investigado pelo
Ministério Público Federal por suspeita de infração de medida sanitária
preventiva, porque, no dia 15 de março, ele postou um vídeo nas redes sociais
minorando os riscos da pandemia do coronavírus, porque, segundo ele, “essa é a
tática, ou mais uma tática, de Satanás”, para espalhar o pavor e o medo. Macedo
ainda exibiu o depoimento de um médico que alegava que o coronavírus “não faz
mal a ninguém”.
Transcorridos quase cinco
meses desde que a covid-19 fez a sua primeira vítima fatal em São Paulo, hoje,
dia 8 de agosto, o Brasil brasileiro de Jaires Bolsonaro, Edires Macedo,
Eduardos Pazuello e coisas afins ultrapassou a marca de 100 mil mortos
vitimados pelo coronavírus. Como alguém já disse, isso não é só um número, não
é apenas uma marca atingida; é o cômputo de inúmeras vidas e trajetórias
interrompidas; de histórias terminadas; de famílias destroçadas; de projetos
inconclusos; enfim, é o resultado da falta de uma ação governamental enérgica e
esclarecedora da gravidade da situação e da conduta abjeta e irresponsável do líder
de uma nação que tratou não somente de fazer pouco caso da pandemia como
incentivou a prática de comportamentos igualmente irresponsáveis e desumanos
que foram vistos em muitos lugares desta infeliz e desgraçada nação.
Quantas “festas do covid”
não tiveram de ser desfeitas pelas polícias? Quantos estabelecimentos
comerciais não tiveram de baixar as suas portas por determinação de fiscais? Quantos
indivíduos não foram retirados de praças, parques e praias? Quantas pessoas não
foram orientadas nas ruas a cumprir a recomendação e/ou determinação de usar
máscaras?
Cem mil mortos! Eu imagino
que, diante disso, Satanás e os seus auxiliares devam estar vibrando, alegres
como o quê, pelo “fracasso” de sua tão engenhosa “tática” de destruição de
vidas, porque, muito incentivados pelos maus exemplos do senhor Jair Bolsonaro,
uns e outros não se apavoraram nem tiveram medo do coronavírus e caíram na
gandaia para se contaminar, contaminar outros e morrer.
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