8 de agosto de 2020

Jair Bolsonaro, Edir Macedo e a “tática de Satanás”

 Por Clênio Sierra de Alcântara

Imagem: Internet
Hoje o Brasil atingiu a marca de cem mil mortos vitimados pelo coronavírus. Um presidente que minimiza a gravidade da doença, um Ministério da Saúde sem ministro e um rebanho que segue cegamente os maus exemplos do mandatário da nação compõem o retrato acabado de um país desgovernado e que ainda assim aposta no seu futuro

   

Muito estupidamente nesta semana, enquanto eu me arrepiava a cada vídeo a que eu assistia das explosões havidas em Beirute, a cidade que eu chamo de “fênix urbana”, tantas foram as vezes em que ela buscou sair de escombros, quebrei a decisão, tomada meses atrás, de não perder meu tempo discutindo com membros das hostes da República Antidemocrática Bolsonariana.

O meu oponente, além de bolsonariano, tinha o agravante de ser evangélico, uma combinação tão perigosa e nociva quanto o nitrato de amônio que destruiu o porto da capital libanesa. Quando você se põe a enumerar as torpezas e as maldades praticadas pelo senhor Jair Bolsonaro de cara o bolsonariano já classifica você de luopetista; e, junto com essa acusação, vem um rol dos crimes que membros dos Partidos dos Trabalhadores (PT) cometeram; os casos de corrupção que estão vindo à tona em vários estados no âmbito das ações de enfrentamento da pandemia; os ataques ao presidente feitos pela Rede Globo; e as “benfeitorias” da cloroquina para “prevenir” o contágio e até  “curar” os contaminados pelo coronavírus.

Quando eu argumentei que nada disso redimia o senhor Jair Bolsonaro da irresponsabilidade de minimizar a gravidade da pandemia; de sair por aí sem máscara; de participar de protestos inconstitucionais e antidemocráticos; de incentivar o uso de um medicamento sem respaldo da comunidade científica, bem como a invasão de hospitais e a agressão a repórteres; e de promover a disseminação de fake news, porque isso não é postura e nem comportamento de alguém que está comandando um país, sabem o que foi que a criaturinha doutrinada me disse? Leiam: “Isso é opinião pessoal dele. O que importa é que ele é honesto. Tás preocupado com postura é?”. Ao ouvir isso eu joguei a toalha consciente, profundamente consciente, de que o senhor Jair Bolsonaro não é o mal maior. Todo mal e toda maldade são absurdos e lamentáveis. O mal maior que está infestando este país doente é o fato de o senhor Jair Bolsonaro, o estúpido, cruel e desumano presidente da República fazer o que faz e continuar sendo apoiado por milhões e milhões de indivíduos. Considero que isso é uma prova de que no mundo existem pessoas e algo que, apenas de longe, se parece com elas.

Uma das caras, um dos símbolos da República Antidemocrática Bolsonariana, o senhor Edir Macedo, o homem que amealhou uma megafortuna operando “milagres” em seus milhares de templos religiosos espalhados por tudo quanto é canto, está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por suspeita de infração de medida sanitária preventiva, porque, no dia 15 de março, ele postou um vídeo nas redes sociais minorando os riscos da pandemia do coronavírus, porque, segundo ele, “essa é a tática, ou mais uma tática, de Satanás”, para espalhar o pavor e o medo. Macedo ainda exibiu o depoimento de um médico que alegava que o coronavírus “não faz mal a ninguém”.

Transcorridos quase cinco meses desde que a covid-19 fez a sua primeira vítima fatal em São Paulo, hoje, dia 8 de agosto, o Brasil brasileiro de Jaires Bolsonaro, Edires Macedo, Eduardos Pazuello e coisas afins ultrapassou a marca de 100 mil mortos vitimados pelo coronavírus. Como alguém já disse, isso não é só um número, não é apenas uma marca atingida; é o cômputo de inúmeras vidas e trajetórias interrompidas; de histórias terminadas; de famílias destroçadas; de projetos inconclusos; enfim, é o resultado da falta de uma ação governamental enérgica e esclarecedora da gravidade da situação e da conduta abjeta e irresponsável do líder de uma nação que tratou não somente de fazer pouco caso da pandemia como incentivou a prática de comportamentos igualmente irresponsáveis e desumanos que foram vistos em muitos lugares desta infeliz e desgraçada nação.

Quantas “festas do covid” não tiveram de ser desfeitas pelas polícias? Quantos estabelecimentos comerciais não tiveram de baixar as suas portas por determinação de fiscais? Quantos indivíduos não foram retirados de praças, parques e praias? Quantas pessoas não foram orientadas nas ruas a cumprir a recomendação e/ou determinação de usar máscaras?

Cem mil mortos! Eu imagino que, diante disso, Satanás e os seus auxiliares devam estar vibrando, alegres como o quê, pelo “fracasso” de sua tão engenhosa “tática” de destruição de vidas, porque, muito incentivados pelos maus exemplos do senhor Jair Bolsonaro, uns e outros não se apavoraram nem tiveram medo do coronavírus e caíram na gandaia para se contaminar, contaminar outros e morrer.

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