Por Clênio Sierra de Alcântara
Para onde quer que se lance
a vista no desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana, se pode ver que
viceja e grassa uma ação incansável visando o empobrecimento quando não o
arruinamento total do setor artístico e cultural deste país. Vigora no seio
dessa gente autoritária, hipócrita, estúpida e covarde um entendimento de que
educação, cultura e arte são coisas irrelevantes e até nocivas que consomem
muito dinheiro do Estado sem dar um retorno à altura dos investimentos; e,
sendo assim, o mais sensato e racional a fazer, é deixar esses setores à míngua,
definhando completamente, sem recursos estatais.
Não é de hoje que o mercado
de livrarias e de livros anda mal das pernas; já faz alguns anos que o setor
livreiro vem colecionando perdas e baixas nas vendas no Brasil, algo que se dá
por múltiplos fatores, entendo eu, como o estabelecimento de custosas megaestores – e muitas fecharam as
portas com o agravamento da pandemia que há meses estamos enfrentando -, a
concorrência do comércio virtual, a pirataria digital de obras, o não muito
apego e/ou interesse de grande parte da população para com a leitura e os
preços dos livros, quase sempre muito elevados. Sim, tem gente que considera mais
proveitoso gastar R$ 50,00, R$ 70,00 numa rodada de cerveja do que direcionar
esses mesmos valores para a compra de livros; e isso se dá, eu suponho, porque,
para muita gente, livro entra na lista do supérfluo, do entretenimento puro e
simples e não como um investimento para a obtenção de conhecimento e de
instrução e de alcance de um maior entendimento do mundo em si e de si no
mundo.
Infelizmente ainda vigora
entre nós uma falta de compreensão de que livros podem fazer com que toda uma
sociedade evolua em todos os aspectos, inclusive, no campo socioeconômico. E esse,
digamos, desprezo pelos livros que existe na sociedade brasileira diz
muitíssimo de nossa indigência moral e ética; e, também, dessa desgraçada “inclinação”
que tantos de nós têm para fazer do ilícito uma tábua de salvação e um meio de
vida.
Depois de acabar com o
Ministério da Cultura; depois de pôr no comando do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional, da Fundação Palmares e da Secretaria Especial
de Cultura, criada pelo desgoverno, pessoas sem preparo intelectual para tanto;
depois de anunciar que a Agência Nacional do Cinema não dará cabimento a “certos
tipos de filmes”; depois de atacar a autonomia das universidades públicas; e
depois de fazer do Ministério da Educação uma espécie de picadeiro e de laboratório
de inutilidades, como se o Brasil estivesse no rol dos países com o melhor
nível educacional do mundo, eis que os tiranos burrocratas da República
Antidemocrática Bolsonariana, tal qual as traças, as baratas, os ratos e os
cupins, resolveram atacar os livros, sobretaxando-os, porque, segundo o
multimilionário ministro da Economia, Paulo Guedes que, eu imagino, leu muitos
e muitos livros ao longo da sua robusta formação para chegar aonde chegou,
livro é, certamente, produto de elite, e, portanto, elite tem dinheiro para
bancar essas coisinhas tão supérfluas como as garrafas de Möet & Chandon e os cristais Baccarat.
Não é uma, digamos, simples
maldade do desgoverno do senhor Jair Bolsonaro anunciar a elevação de taxa de
um produto que já é tão caro por aqui. Eu noto nisso uma estratégia de promoção
da alienação cultural de um povo com vistas a mais facilmente manipulá-lo. Observe-se
que, em sua defesa da sobretaxação dos livros, o senhor Paulo Guedes ainda teve
o descaramento de dizer, como se todos nós fôssemos uns idiotões de marca maior
que apoiam um presidente que assistiu insensível e cruelmente à morte de mais
de 100 mil cidadãos vitimados pela covid-19, desacreditando desde o início da
pandemia a letalidade do vírus, que o desgoverno distribuirá livros aos mais
pobres. Li isso e me perguntei: “Que tipo de livro será que esse desgoverno
abarrotado de gente obscurantista, autoritária, hipócrita, estúpida e covarde
vai distribuir? A Bíblia? As obras de
Olavo de Carvalho e de Edir Macedo? Ou os manuais de sobrevivência na selva do
Exército? Pobre não vai poder escolher o que quiser ler?”.
Mais do que um acinte e um
projeto de aniquilamento da formação educacional e humana plural de toda uma
população, a sobretaxação dos livros que foi anunciada revela mais uma vez as
estratégias malignas do desgoverno do senhor Jair Bolsonaro; e é mais uma prova
de que os tiranos continuam a enxergar os livros como inimigos ferrenhos de
suas maquinações que intentam fazer de todo e qualquer cidadão e cidadã uma
marionete e/ou um autômato que, incapaz de pensar por si próprio e de ser
desprovido de discernimento, só faz aquilo que lhe é mandado fazer. Os tiranos
têm absoluta certeza de que o homem e a mulher que pensam por eles mesmos são
elementos perigosos demais para os desígnios que eles, tiranos, planejam em
seus gabinetes.
A Santa Inquisição queimou
pessoas e livros em seus autos de fé. Os ditadores - civis e militares - mataram
e matam indivíduos que discordam deles e fazem desaparecer corpos e livros. Livros
incomodam os dominadores desde que eles começaram a existir e circular. Livros são
armas potentes demais, porque não precisam ser recarregadas. Livros não são
produtos supérfluos; muito pelo contrário, são artigos de primeiríssima
necessidade; e, quem diz o contrário disso, é amigo e cúmplice da ignorância e
da tirania; e inimigo da liberdade e da democracia.
Leio, logo me liberto.
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