17 de outubro de 2020

Um rap para a Justiça injusta

 Por Clênio Sierra de Alcântara


Foto: Divulgação
Eu sou André do Rap e você é um mané!!


Nesta semana, neste país que continua a arder em chamas para que as noitadas possam se a chegar, o cidadão que está  atento ao que acontece ao seu redor tomando, inclusive, cuidado para não  ser contaminado por um vírus  que até  hoje  já  matou 153.690 pessoas, acompanhou até  que ponto as idiossincrasias de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) e a sua interpretação  unilateral  da letra da lei podem fazer  mal a toda a sociedade ao beneficiar um bandido que fora  condenado mais de uma vez.

Nos seus arroubos de autoridade altamente competente e conhecedora profunda dos ditames legais, o ministro Marco Aurélio Mello, ao ter a sua decisão  de soltar o traficante André  do Rap revogada pelo presidente da Suprema  Co, o ministro Luiz Fux,  classificou a acertada atitude de autoritária. Ora, essa, então  - e considerando  a situação que  como disse Luiz Fux,  foi excepcionalíssima - decidir  unilateralmente  pela soltura de um criminoso perigoso fazendo a interpretação  de um texto legal que tem muito de controverso não  foi uma atitude  autoritária,  para não  dizer irresponsável? Por que o ministro Marco Aurélio de Mello  não  levou o exame  da questão para discussão  em plenário  em vez de sozinho assinar a soltura de um dos maiores traficantes  de drogas do país?

Vejam vocês que na mesma semana em que um membro do STF decidiu que um traficante de  alta periculosidade  poderia  voltar às  ruas Por que era/é assim que determinava/determina a lei, outro, no caso o ministro  Luís Roberto Barroso,  pediu o afastamento  - a prisão é  impossível  porque  o meliante goza de imunidade parlamentar- das atividades  parlamentares do senador  Chico Rodrigues, membro do Conselho de Ética  do Senado, imaginem, que, numa  operação da Polícia Federal, foi flagrado  com milhares  de reais escondidos,  ops, guardados na cueca, na poupança, ops, nas nádegas. É pensar que, desde a semana passada, segundo a fala do senhor presidente da República  Jair Bolsonaro  a corrupção  havia sido extinta nesta malsinada nação .  Que coisa, hein? O Brasil é ou não é um país  surpreendente?

De minha parte, eu que adoro uma freia, uma ironia, um humor  negro e um sarcasmo, me vi tocado  pela musa poética  e fiz um "Rap da soltura", afinal, um episódio tão relevante para a história  da impunidade  que você já neste Brasil  varonil  não  poderia  deixar de ser registrado  pelo olhar de um artista, ainda que de um artista de segunda categoria  não  é mesmo?!


                        Rap da soltura


Sou um bandido de alta periculosidade;

tráfico droga e o mais me der vontade.

Eu vou fazer sempre o que  eu quiser. 

Eu sou André do Rap  e você  é um  mané. 


Mano, não esquenta,

a tua hora vai chegar.

Essa Justiça  é lenta, mas é  fácil  de enganar; 

e nem ferramenta tu vai precisar usar.


Está  na lei

pra todo mundo ver;

chama teu advogado, ele vai livrar  você.


A corrupção  acabou!

Foi o presidente  que falou.

Mas não é isso o que  eu vejo por  aí.

O que  era aquilo na cueca do amigo do Jair?


Brasília nunca foi pra mim uma cidade bendita;

muito pelo contrário,  é uma terra maldita.

Enquanto  os egos inflam no Planalto  e no STF,

eu cá  tô  é de boa, eu sou André do Rap


Podem bater palmas. Nós precisamos de alguma forma celebrar as injustiças, a miséria,  a estupidez,  a soberba, a arrogância, a burrice, o atraso, o subdesenvolvimento, o nepotismo, as rachadinhas, o enriquecimento  ilícito,  a indiferença, o ativismo, o analfabetismo funcional, o corporativismo, as ilicitudes, os penduricalhos  nos já  altos salários, as mamatas, as negociatas, os desvios e as malversações do dinheiro público,  as quadrilhas, enfim,  tudo o que faz desta  desgraçada nação um dos cânceres mais agressivos que atacam o processo  civilizatório do mundo.

Não,  eu não  vou recorrer da sentença. Eu sei que é  perda  de tempo, porque  este país  não tem jeito.

Um comentário:

  1. Infelizmente passamos por uma crise institucional jamais visto, em a lacuna jurídica há sempre tender para impunidade. Absurdo.

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