14 de novembro de 2020

O Amapá como resumo do Brasil brasileiro que sobrevive nas trevas do atraso, do descaso e da perversidade

Por Clênio Sierra de Alcântara

Imagem: Rede Amazônica
A calamidade da falta de energia elétrica por ora enfrentada pelos amapaenses é o retrato acabado do Brasil-potência do senhor Jair Bolsonaro

Enquanto o senhor Jair Bolsonaro comemora a suspensão dos testes de uma vacina contra o coronavírus que até o dia de hoje já tirou a vida de 164.979 indivíduos apenas no Brasil, o povo do Amapá amarga uma calamidade, um apagão de energia elétrica. Enquanto o senhor Jair Bolsonaro faz pouco caso das tantas vidas que o coronavírus ceifou dizendo que lamenta os óbitos muito embora o seu semblante expresse quaisquer outros sentimentos, menos compaixão e solidariedade para com as famílias dessas vítimas, o povo do Amapá enfrenta a desgraça de um racionamento de energia elétrica que o faz, entre outras coisas, perder comida guardada na geladeira. Enquanto o senhor Jair Bolsonaro homofobicamente tripudia dos brasileiros pregando que eles não ajam como “maricas”, o povo do Amapá vive num caos provocado pela falta de energia elétrica, mal podendo trabalhar, sacar dinheiro, fazer compras, ter água nas torneiras e usar automóveis. Enquanto o senhor Jair Bolsonaro bravateia querendo fazer os tolos e incautos acreditarem que ele fará o país pegar em armas – “pólvora” foi a palavra que ele utilizou – para defender os interesses e a soberania nacional, o povo do Amapá, o valente, o aguerrido e ludibriado povo do Amapá deverá passar pelo menos mais dez dias convivendo penosamente com um racionamento de energia elétrica.

A força da explicação é tão intensa e precisa que eu muitas vezes recorro a ela. Mestre Ariano Suassuna costumava dizer que no Brasil existiam duas realidades: a do Brasil oficial, propagandeada pelo Governo; e a do Brasil real, que é a que nós vemos e enxergamos por aí. No Brasil oficial do senhor Jair Bolsonaro, a covid-19 não passa de uma gripezinha; já no Brasil real, ela até agora matou quase 165.000 pessoas. No Brasil oficial do senhor Jair Bolsonaro, a corrupção acabou; já no Brasil real, dois senadores – só para ficarmos em apenas dois notórios exemplos – estão sendo investigados: um foi apanhado pela Polícia Federal com cédulas e mais cédulas de real guardadas, digamos assim, na entrada do seu fiofó; e outro que, por essas circunstâncias da vida, calha de ser filho do senhor Jair Bolsonaro, é acusado de surrupiar parte do dinheiro dos empregados no tempo em que milicianamente, digamos assim, ele atuava como deputado estadual do Rio de Janeiro. No Brasil oficial do senhor Jair Bolsonaro, a proteção do meio ambiente é um imperativo do Estado; no Brasil real, os brasileiros nunca viram tanto desmatamento e tantas queimadas consumindo matas e florestas para boiadas, garimpeiros e madeireiras passarem como vem ocorrendo nos últimos dois anos.

Pelo que eu ando acompanhando através da imprensa parece que os brasileiros não nos tocamos da gravidade do que está se passando no Amapá. Minha gente, qualquer apagão de algumas poucas horas causa grandes transtornos; agora imagine você ter de conviver todos os dias com o corte de energia elétrica. Como organizar as atividades cotidianas numa realidade que é praticamente toda ela dependente dessa fonte de energia? Como conviver num cenário de escuridão e de incerteza de quando tudo será normalizado e ainda tendo de enfrentar a pandemia de um vírus letal?

O que está se passando no Amapá é uma prova irrefutável não só do que afirmava Ariano Suassuna, bem como a certificação muito clara e robusta da incompetência do Estado devorador de impostos para bem cuidar dos seus cidadãos. Como compreender e aceitar que uma empresa que atua numa das regiões mais remotas do país não possua peças e equipamentos de reserva para fazer reposições imediatas caso seja necessário?

A companhia responsável pelo fornecimento de energia elétrica aos amapaenses deveria imediatamente perder o contrato e ser impedida por longos anos, quiçá, para sempre de atuar no ramo que, como se tem visto, ela não tem know-how para tanto. O pior de tudo isso é saber que a incompetência é generalizada: da companhia (ir)responsável pelo fornecimento de energia elétrica aos amapaenses; e do Governo Federal, porque, como foi revelado pela imprensa, o Ministério das Minas e Energia e o Operador Nacional do Sistema (NOS) sabiam da iminência de um apagão no Amapá e nada fizeram para evitá-lo. Coisas do Brasil brasileiro.

Não duvidem se, qualquer hora dessas, o senhor Jair Bolsonaro disser que os amapaenses estão agora recebendo um castigo por terem mais de uma vez elegido José Sarney senador. O que o senhor Jair Bolsonaro jamais dirá é que nós brasileiros merecemos mesmo penar por termos como presidente da República um ser tão desprezível, abjeto, inconsequente, indiferente e perverso como ele.

Um comentário:

  1. E todo esse apagão, apagão da cegueira, da idolatria, da ignorância, Ainda é aplaudida e recebida pelo senhor presidente na sua visita, como Salvador da Pátria amada Brasil, com a pura impressao e utopia, que com sua honorável visita, todo esse caos seria resolvido, pura burrice e ignorância dos gados. Mas mediante a todo esse caos, vem uma cena viralizada nas redes sociais, que me faz sorrir, hehehehe ... a encaixada tão esperada e desejada do segurança e a Estrela no carro alegórico, parecia que estavas gostando, o homofobico sempre tem algo de desejo escondido. Sim, Falando sério; um Brasil com tantas usinas e recursos é vergonhoso ainda passar por esse tipo de situação, de ter a carência de uma coisa básica , que é a energia, ou será os desmando e a incompetência de um governo ardil e ignorante?

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