25 de dezembro de 2020

Marcelo Crivella foi preso? Oh glória!

Por Clênio Sierra de Alcântara

 

Imagem: Internet
Marcelo Crivella, agora preso em sua luxuosa residência:  militante e defensor do plano de poder do execrável Edir Macedo, Crivella é o retrato de um país que possui um povo que continua apostando num bom futuro apostando em políticos que são a encarnação do retrocesso e do obscurantismo


A conjunção planetária de Júpiter e Saturno, ocorrida na última segunda-feira, trouxe em seu rastro a prisão do morto-vivo, do pálido zumbi Marcelo Crivella, que, até o próximo dia 31 de dezembro, permanece sendo oficialmente o prefeito do Rio de Janeiro. A capital brasileira das desgraças, dos ladrões, dos milicianos e dos políticos corruptos amargou, mais uma vez, a dura realidade de ver uma autoridade de renome ir parar atrás das grades por fazer da administração pública um campo de práticas desonestas.

Muito embora negue – e é próprio do farsante, do encenador e do embusteiro negar os seus reais propósitos -, o senhor Marcelo Crivella é um dos empedernidos e ativos militantes do plano de poder engendrado pelo líder da Igreja Universal do Reino de Deus, o execrável Edir Macedo, uma criatura que enriqueceu promovendo a chamada “teologia da prosperidade”, que consiste em promover em seus templos toda a sorte de ações que consigam arrancar de alguma forma o máximo de dinheiro dos seus ingênuos e crédulos seguidores, dizendo que, só assim, eles alcançarão a riqueza material terrena.

E por que o senhor Marcelo Crivella foi parar atrás das grades e, depois, como é corriqueiro na Justiça injusta que impera neste país, foi mandado cumprir prisão domiciliar? Segundo as investigações em curso do Ministério Público do Rio de Janeiro, o nobre, impoluto e religioso Marcelo Crivella chefiava um esquema que consistia no repasse de propinas de empresários para a Prefeitura da cidade; tais pagamentos ocorriam para que os executivos obtivessem vantagens em contratos públicos e no pagamento de dívidas. O Ministério Público suspeita que a Igreja Universal do Reino de Deus foi utilizada para lavagem de dinheiro; e que a instituição religiosa tenha movimentado R$ 6 bilhões em todo o estado do Rio de Janeiro.

Vemos constantemente no noticiário, desde há muito, que tanto o estado do Rio de Janeiro como a sua capital, encontram-se com déficits fiscais e precisando urgentemente renegociar suas dívidas. Em grande parte essa situação calamitosa foi fruto das movimentações criminosas de muitos de seus administradores – vários deles e seus comparsas, felizmente, continuam atrás das grades, de onde nunca mais deveriam sair – que lançaram mão do que puderam para subtrair recursos públicos.

Os moradores da proclamada “Cidade maravilhosa” fizeram, em 2016, aquela aposta típica de que quem sabe desde o início que tem tudo para perder, não dar certo e fracassar. Como votar num sujeito que representa o que o mundo político e a sociedade brasileira têm de mais retrógrado e vil? Será que essas pessoas não tinham conhecimento do que Edir Macedo e os dirigentes da cúpula administrativa da Igreja Universal do Reino de Deus são capazes de fazer para encher os seus cofres? Será que esse povo nunca assistiu a um dos vídeos de instrução de meliantes que ensinam como arrancar dinheiro dos ditos fiéis? Como dizem por aí, o pior cego é o que não quer ver e o pior surdo é o que não quer escutar. O autoengano não salva ninguém de nada.

Como é de praxe, sempre que vem à tona alguma revelação dando conta de práticas imorais e/ou ilícitas verificadas em seus negócios, Edir Macedo e os seus escudeiros vêm com a manjada retórica da perseguição e do ódio religioso. É uma cantilena desgraçada e nada convincente. Querendo sair pela tangente esse pessoal infame e salafrário que vende indulgências e que loteia um suposto paraíso celestial, arrancando o que pode do seu rebanho, nega constantemente a ação de práticas que investigações dizem ser criminosas; gente dessa laia fica a propagar que críticos de suas ações, como eu, o que fazem é pregar a intolerância e o ódio religioso. Não é nada disso. Intolerância e ódio religioso é o que eles pregam em seus cultos contra as religiões de matriz africana e os ataques que eles promovem contra as imagens dos santos da Igreja Católica. Protestantismo é uma das divisões do cristianismo, que é uma religião; nome e razão social de templos e de empresas que exploram a fé religiosa não. O que os Macedos, os Malafaias, os Valdemiros, os Soares e os Crivellas fazem é manchar, é macular o protestantismo. A ideia de que uma suposta “salvação divina” pode ser comercializada, negociada e vendida é, por si mesma, uma ação repugnante praticada por aproveitadores que enriquecem a olhos vistos e vivem vidas de muito luxo. Por que será que o governo angolano está expulsando a Igreja Universal do Reino de Deus do seu território?

Ao ser eleito prefeito do Rio de Janeiro, em 2016, Marcelo Crivella talvez tenha pensado que conseguiria fazer da “Cidade maravilhosa” o cenário, o lugar de experimento para o início da teocracia e do plano de poder que o seu mentor Edir Macedo ambiciona para todo o país. O projeto da teocracia foi um retumbante fracasso; o que prosperou, segundo as investigações do Ministério Público, foram os negócios escusos desde sempre promovidos pela “perseguida” e “caluniada” Igreja Universal do Reino de Deus.

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