Mal-aventurados os bolsonarianos porque é deles o reino dos infernos

 Por Clênio Sierra de Alcântara

Faltou oxigênio no "pulmão do mundo": falta-nos quase tudo: decência, competência, compromisso social, saneamento básico, honestidade, empatia, solidariedade, tolerância, educação e/ou reeducação, saúde, paz, vergonha na cara, moradia, alimentação, emprego, segurança, dignidade, moralidade, cidadania, respeito, compaixão, vacina e, agora, até oxigênio. A que ponto nós chegamos

 

Negacionistas de primeira hora, além de cruéis e indiferentes, os bolsonarianos se portam como sabe-tudo; por isso, além de pregarem o fim do isolamento social no combate à transmissão do coronavírus e fazerem propaganda de medicamentos supostamente preventivos e eficazes contra o mal que por ora nos assola – como ir-res-pon–sa-vel-men-te faz o próprio Ministério da Saúde, contrariando a Organização Mundial da Saúde -, eles e o seu chefe-supremo estão sempre dispostos a desrespeitar os protocolos sanitários, promover festas clandestinas, desacreditar as medidas recomendadas pela ciência, falar mal das vacinas e celebrar sempre que lockdowns são vetados.

Meses atrás, quando os habitantes de Manaus começaram a sentir o avanço da pandemia, os bolsonarianos se puseram a fazer pouco da situação; era o povo morrendo e eles a defender o pleno funcionamento do comércio e a total circulação de pessoas. A morte era uma festa para eles, como, aliás, ainda o é. Contando com o apoio de uma aberração da TV amazonense, filhos do chefe-supremo chegaram a ir ao programa do dito-cujo tomar parte em uma coreografia escrota. Quem apoia gente dessa laia não tem um mínimo de decência e nem de humanidade.

Amazonenses, em geral, e manauaras, em particular, estão sofrendo os estragos provocados pela pandemia, pela corrupção e por escolhas que eles próprios fizeram. Eram covas e mais covas sendo abertas para sepultar vítimas da covid-19 e as pessoas indo para as ruas protestar contra as medidas restritivas. São cenas e mais cenas de pessoas desesperadas em busca de atendimento hospitalar e a Prefeitura de Manaus tendo de bloquear o acesso à praia de Ponta Negra, porque se não for assim, uma multidão de indiferentes e de inconsequentes vai para lá como se uma pandemia não estivesse em curso.

Nesta semana chegou-se ao absurdo de faltar oxigênio nos hospitais. Minha gente, que grupo de gerenciamento de crise é esse que, lidando com uma realidade de pandemia, deixou isso acontecer? É sem dúvida uma incompetência, uma ingerência, um descaso e um despreparo de proporções realmente amazônicas. Quiçá, os recursos que desviaram lá atrás e que estão sendo alvos de investigações, eram os meios necessários para garantir que não faltasse oxigênio. Quiçá, o dinheiro que os corruptos surrupiaram do combate à pandemia foi o que iria assegurar que não faltariam insumos na área da saúde do Amazonas.

Boçais elevados à enésima potência, armamentistas que defendem a morte sumária de bandidos e não conseguem dar conta da criminalidade que assola o Rio de Janeiro, senhores e senhoras de um mundo obscurantista, retrógrado e desumano, os bolsonarianos seguem firmes em sua marcha bestial convictos de que estão salvando o Brasil da miséria, dos mais de catorze milhões de desempregados, da desindustrialização e do morticínio que só faz crescer nos quatro cantos deste país. “Tudo de ruim agora que acontece no Brasil jogam logo pra cima do presidente”, eles costumam dizer. Não, não é só o presidente da República o responsável por muitos dos males que vêm assolando este país. Eles, os bolsonarianos, são corresponsáveis pelas desgraças porque elegeram o traste.

Bolsonariano é um tipo que pensa que sempre tem razão. É perda de tempo tentar argumentar com esse pessoal. Nem tente, porque, além de chamar você de petista, é capaz de apontarem uma arma para a sua cabeça. Os bolsonarianos, egocêntricos e cheios de si, têm-se como a encarnação do bem: e designam os outros como o lado do mal. O paradoxo é que, como o lado do bem, eles o que mais praticam são maldades. Cabe para eles o pensamento da desiludida Tigresa da música do Caetano Veloso, para quem “o mal é bom e o bem cruel”. A grande diferença entre os bolsonarianos e a tal Tigresa é que ela, mesmo carregando “muito ódio no coração”, andava dando muito amor, prazer e dor, enquanto que eles tão somente dor. Reza a cartilha bolsonariana que os outros não são adversários, são inimigos. E isso por si só diz muito da natureza perversa deles. Eles se apresentam como “forças do progresso”, mas agem como “forças do atraso”.

Não que precisássemos estar atravessando uma pandemia mortal para que nossas misérias ficassem expostas. Nossas misérias morais e materiais não são destes dias, são de longa data. O que o desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana junto com o coronavírus fez foi exacerbar a brutalidade, a indiferença, os preconceitos, a intolerância e tudo de ruim que parte expressiva da população brasileira mantinha latente. Minha gente, quem prega o ódio, a divisão, a matança, a posse de armas, o desrespeito às leis de preservação do meio ambiente e a intolerância certamente não almeja o bom futuro de uma sociedade.

A incompetência do desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana no trato com a pandemia está escancarada para o mundo, o que, verdade seja dita, não poderia ser diferente, considerando que o seu chefe-supremo desde o início tripudiou sobre a doença e agora fica disputando com o governador de São Paulo uma vacina, a Coronavac, que ele sempre atacou e pôs em dúvida a eficácia. O Brasil é o segundo país do planeta com o maior número de mortos vitimados pelo coronavírus e ainda não deu início à vacinação. O incompetente ministro da Saúde, o senhor Eduardo Mestre dos Magos Pazuello, cada vez que abre a boca faz do Brasil um pouco mais brasil. E, por seu turno, os técnicos da Agência de Vigilância Sanitária se comportam como se fossem o suprassumo, a nata científica do mundo. Enquanto isso até o dia de hoje o coronavírus tirou a vida de 209.350 habitantes desta nação.

Falta-nos quase tudo: decência, competência, compromisso social, saneamento básico, honestidade, empatia, solidariedade, tolerância, educação e/ou reeducação, saúde, paz,  vergonha na cara, moradia, alimentação, emprego, segurança, dignidade, moralidade, cidadania, respeito, compaixão, vacina e, agora, até oxigênio. A que ponto nós chegamos.

Certamente não será alguém como o atual presidente deste país que conseguirá livrar o Brasil dos males que o consomem. Uma pessoa cruel é cruel é cruel é cruel.

Mal-aventurados os bolsonarianos porque é deles o reino dos infernos.