13 de março de 2021

O lulismo e o bolsonarismo são dois dos cânceres que nós precisamos extirpar do cenário político brasileiro

 Por Clênio Sierra de Alcântara


Fotos: Antônio Cruz e Theo Marques
Jair Bolsonaro é uma pessoa tão nefasta mais tão nefasta que conseguiu ressuscitar um mau-caráter como senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Chegamos ao ponto de uma encruzilhada. Que desgraça!


 

Quando, na última segunda-feira, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anulou as sentenças condenatórias do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a dita esquerda brasileira ficou em polvorosa e em esfuziante alegria por dois evidentes motivos: a militância tomou a decisão do ministro como se a anulação das sentenças significasse a absolvição pelo rol de crimes que, de acordo com investigações do Ministério Público, o mandachuva do Partido dos Trabalhadores (PT) cometeu; e, junto com isso, ele recuperou os direitos políticos, uma vez que, pelo menos por ora, deixou de ser um ficha suja, podendo concorrer a qualquer cargo eletivo. Ou seja, caso não ocorra nenhuma reviravolta neste país de desagradáveis reviravoltas, o ex-detento Luiz Inácio Lula da Silva irá, no ano que vem, disputar – e com grande chance de sagrar-se vencedor – a eleição para a presidência da República. Curiosamente, até agora o general Eduardo Villas-Bôas não se pronunciou sobre a decisão do ministro. Coisas de Brasília.

A sociedade brasileira é, ao que parece,  essencialmente desonesta e venal. Nós costumamos cobrar dos políticos um comportamento exemplar que não conseguimos ter. Entre tantos outros meios ilícitos de viver, estão aí, em evidência, as fraudes do seguro defeso e do auxílio emergencial e as centenas de fura-filas da campanha de vacinação contra a covid-19 escancarando a magnitude de nossa torpeza moral. Por que nós não nos esforçamos para mudarmos esse tipo de comportamento?

Vivemos, talvez, como em nenhum outro momento de nossa História, sob a construção de narrativas que, mais para o mal do que para o bem, alvoroçam o ambiente político provocando quando não insinuando e incentivando rupturas através da internet e das redes (anti)sociais.

A construção de narrativas pró e contra o senhor Jair Bolsonaro, atual presidente deste desgraçado país, pode deixar o eleitor e o cidadão comum desnorteados. Afinal, em que acreditar? A favor de Bolsonaro se diz – e se sabe que é verdade -, por exemplo, que Tarcísio de Freitas, ministro da Infraestrutura, está conduzindo de modo muito eficiente a pasta que administra, promovendo a construção de rodovias e ferrovias, concluindo obras que estavam há anos inacabadas e por aí vai. Numa perspectiva macro e ampla, é claro que o trabalho desenvolvido pelo atual Ministério da Infraestrutura é muito valoroso e benéfico para o país como um todo, porque tudo deve funcionar a contento para o bem coletivo, para toda a sociedade, que precisa usufruir não somente de rodovias e ferrovias de primeira qualidade, mas também de bons hospitais, de boas escolas, de segurança pública e de tudo o mais que seja responsabilidade do Estado oferecer aos seus cidadãos. Ocorre que, em meio a uma pandemia que até hoje, somente neste país, abateu 277.216 vidas, as ações, melhor dizendo, o comportamento misto de perversidade com irresponsabilidade e desleixo, do senhor Jair Bolsonaro, desde o início foi um completo e total desastre: o negacionismo; o desdém pela gravidade da crise sanitária; os discursos contra a eficácia das máscaras e das vacinas; os ataques sistemáticos à imprensa e aos governadores que, segundo ele, agem para destruir o seu governo... Enfim, o que eu estou querendo dizer é que um ministro só não será capaz de salvar um governo cujos alardeados princípios liberais, no tocante à economia, até agora não surtiram efeitos promissores, e que, de resto, é alinhado com ideias retrógradas e obscurantistas, ou, como preferem dizer os seus fiéis defensores, pautado pela “moralidade” e pelos “bons costumes”.

Num país em que políticos duelam não por um projeto grandioso de nação, mas sim pelo bem de seus atores partidários e de seus planos de poder; num país que preza com verdadeira volúpia o “rouba, mas faz”, o perverso e boca-podre Bolsonaro não é, a meu ver, páreo para um tipo como o Lula. Sejamos francos e realistas: em termos de política e de liderança, Lula está a anos-luz do traste do Bolsonaro. Lula, para começar, tem identidade partidária, algo que Bolsonaro jamais terá porque trocou inúmeras vezes de partido e atualmente está sem nenhum. Aos olhos do povão, aos olhos dos milhões de desassistidos e esfomeados que vivem em favelas, palafitas, praças e outros recantos deste país, esquecidos pelo Estado, rodovias e ferrovias novinhas não querem dizer nada. Neste sentido, para a massa de desvalidos ou para todos aqueles que conseguiram de alguma forma escapar da pobreza em que viviam amparados em políticas sociais desenvolvidas durante o “rouba, mas faz” dos governos do petista, Lula é um deus salvador; e nenhuma narrativa mudará este fato. Lula e Bolsonaro: um deus e um diabo na terra do sol.

Sabidamente Lula fez um governo que, entre outras benfeitorias, tirou milhões de brasileiros da pobreza; e isso é um capital eleitoral que nenhum outro político da História recente deste país conseguiu suplantar, começando por Dilma Rousseff que, paulatinamente, pôs tudo a perder. Em contraponto ou em comparação a isso o que é que Bolsonaro, o incorrigível e indigno do cargo que ocupa, vai mostrar em sua propaganda eleitoral? Os aumentos sucessivos dos preços dos combustíveis e do gás de cozinha? A carestia dos alimentos? A reforma da Previdência que beneficiou alguns grupos que o apoiam, como o alto oficialato das Forças Armadas? A paralisia do Ministério da Educação? O troca, troca do comando do Ministério da Saúde em pleno desenrolar de uma pandemia? A inoperância do mais do que queimado Ministério do Meio Ambiente?A lentidão para vacinar o povo contra a covid-19? A liberação para que quem não tem o que comer compre um revólver? Os milhões de desempregados?

Aposto com qualquer um que em seu horário gratuito de propaganda eleitoral o senhor Jair Bolsonaro recorrerá, como último recurso para tentar derrotar o petista, ficar repetindo continuamente: Lula é ladrão. Lula é ladrão. Lula é ladrão. Coitado. Gritará para ouvidos moucos. Que vexame descomunal recairá sobre o honesto, honestíssimo amigo de milicianos e indisciplinado ex-capitão do Exército, quando ele amargar a derrota para um ladrão.

Jair Bolsonaro é uma pessoa tão nefasta mais tão nefasta que conseguiu ressuscitar um mau-caráter como senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Chegamos ao ponto de uma encruzilhada. Que desgraça!

O lulismo e o bolsonarismo são dois dos cânceres que nós precisamos extirpar do cenário político brasileiro sob pena de continuarmos afundados no pântano do atraso socioeconômico, ético, moral e civilizacional.

Um comentário:

  1. E quando me manifesto sobre apolítica brasileira, ressalto não sou de ideologia nem de esquerda e muito menos de direita. O que externo é o uso da razão, do bom senso e principalmente do sócio-cientifico, isso sim é que me interessa e ponto final.

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