Por Clênio Sierra de Alcântara
Quando, na última
segunda-feira, o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF),
anulou as sentenças condenatórias do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a
dita esquerda brasileira ficou em polvorosa e em esfuziante alegria por dois
evidentes motivos: a militância tomou a decisão do ministro como se a anulação das
sentenças significasse a absolvição pelo rol de crimes que, de acordo com
investigações do Ministério Público, o mandachuva do Partido dos Trabalhadores
(PT) cometeu; e, junto com isso, ele recuperou os direitos políticos, uma vez
que, pelo menos por ora, deixou de ser um ficha suja, podendo concorrer a
qualquer cargo eletivo. Ou seja, caso não ocorra nenhuma reviravolta neste país
de desagradáveis reviravoltas, o ex-detento Luiz Inácio Lula da Silva irá, no
ano que vem, disputar – e com grande chance de sagrar-se vencedor – a eleição
para a presidência da República. Curiosamente, até agora o general Eduardo
Villas-Bôas não se pronunciou sobre a decisão do ministro. Coisas de Brasília.
A sociedade brasileira é, ao que parece, essencialmente desonesta e venal. Nós costumamos cobrar dos políticos um
comportamento exemplar que não conseguimos ter. Entre tantos outros meios
ilícitos de viver, estão aí, em evidência, as fraudes do seguro defeso e do
auxílio emergencial e as centenas de fura-filas da campanha de vacinação contra
a covid-19 escancarando a magnitude de nossa torpeza moral. Por que nós não nos esforçamos para mudarmos esse tipo de comportamento?
Vivemos, talvez, como em
nenhum outro momento de nossa História, sob a construção de narrativas que,
mais para o mal do que para o bem, alvoroçam o ambiente político provocando
quando não insinuando e incentivando rupturas através da internet e das redes
(anti)sociais.
A construção de narrativas
pró e contra o senhor Jair Bolsonaro, atual presidente deste desgraçado país,
pode deixar o eleitor e o cidadão comum desnorteados. Afinal, em que acreditar?
A favor de Bolsonaro se diz – e se sabe que é verdade -, por exemplo, que Tarcísio de Freitas,
ministro da Infraestrutura, está conduzindo de modo muito eficiente a pasta que
administra, promovendo a construção de rodovias e ferrovias, concluindo obras que
estavam há anos inacabadas e por aí vai. Numa perspectiva macro e ampla, é
claro que o trabalho desenvolvido pelo atual Ministério da Infraestrutura é
muito valoroso e benéfico para o país como um todo, porque tudo deve funcionar
a contento para o bem coletivo, para toda a sociedade, que precisa usufruir não
somente de rodovias e ferrovias de primeira qualidade, mas também de bons
hospitais, de boas escolas, de segurança pública e de tudo o mais que seja
responsabilidade do Estado oferecer aos seus cidadãos. Ocorre que, em meio a
uma pandemia que até hoje, somente neste país, abateu 277.216 vidas, as ações,
melhor dizendo, o comportamento misto de perversidade com irresponsabilidade e
desleixo, do senhor Jair Bolsonaro, desde o início foi um completo e total
desastre: o negacionismo; o desdém pela gravidade da crise sanitária; os
discursos contra a eficácia das máscaras e das vacinas; os ataques sistemáticos
à imprensa e aos governadores que, segundo ele, agem para destruir o seu
governo... Enfim, o que eu estou querendo dizer é que um ministro só não será capaz de salvar um governo cujos alardeados princípios liberais, no tocante à economia, até agora não surtiram efeitos promissores, e que, de resto, é alinhado com ideias retrógradas e
obscurantistas, ou, como preferem dizer os seus fiéis defensores, pautado pela “moralidade”
e pelos “bons costumes”.
Num país em que políticos
duelam não por um projeto grandioso de nação, mas sim pelo bem de seus atores
partidários e de seus planos de poder; num país que preza com verdadeira
volúpia o “rouba, mas faz”, o perverso e boca-podre Bolsonaro não é, a meu ver,
páreo para um tipo como o Lula. Sejamos francos e realistas: em termos de
política e de liderança, Lula está a anos-luz do traste do Bolsonaro. Lula,
para começar, tem identidade partidária, algo que Bolsonaro jamais terá porque
trocou inúmeras vezes de partido e atualmente está sem nenhum. Aos olhos do
povão, aos olhos dos milhões de desassistidos e esfomeados que vivem em
favelas, palafitas, praças e outros recantos deste país, esquecidos pelo
Estado, rodovias e ferrovias novinhas não querem dizer nada. Neste sentido,
para a massa de desvalidos ou para todos aqueles que conseguiram de alguma
forma escapar da pobreza em que viviam amparados em políticas sociais
desenvolvidas durante o “rouba, mas faz” dos governos do petista, Lula é um
deus salvador; e nenhuma narrativa mudará este fato. Lula e Bolsonaro: um deus
e um diabo na terra do sol.
Sabidamente Lula fez um
governo que, entre outras benfeitorias, tirou milhões de brasileiros da
pobreza; e isso é um capital eleitoral que nenhum outro político da História
recente deste país conseguiu suplantar, começando por Dilma Rousseff que,
paulatinamente, pôs tudo a perder. Em contraponto ou em comparação a isso o que
é que Bolsonaro, o incorrigível e indigno do cargo que ocupa, vai mostrar em
sua propaganda eleitoral? Os aumentos sucessivos dos preços dos combustíveis e
do gás de cozinha? A carestia dos alimentos? A reforma da Previdência que
beneficiou alguns grupos que o apoiam, como o alto oficialato das Forças Armadas? A paralisia do Ministério da
Educação? O troca, troca do comando do Ministério da Saúde em pleno desenrolar de uma pandemia? A inoperância do mais do que queimado Ministério do Meio Ambiente?A lentidão
para vacinar o povo contra a covid-19? A liberação para que quem não tem o que
comer compre um revólver? Os milhões de desempregados?
Aposto com qualquer um que
em seu horário gratuito de propaganda eleitoral o senhor Jair Bolsonaro
recorrerá, como último recurso para tentar derrotar o petista, ficar repetindo
continuamente: Lula é ladrão. Lula é ladrão. Lula é ladrão. Coitado. Gritará para
ouvidos moucos. Que vexame descomunal recairá sobre o honesto, honestíssimo
amigo de milicianos e indisciplinado ex-capitão do Exército, quando ele amargar
a derrota para um ladrão.
Jair Bolsonaro é uma pessoa
tão nefasta mais tão nefasta que conseguiu ressuscitar um mau-caráter como
senhor Luiz Inácio Lula da Silva. Chegamos ao ponto de uma encruzilhada. Que desgraça!
O lulismo e o bolsonarismo
são dois dos cânceres que nós precisamos extirpar do cenário político
brasileiro sob pena de continuarmos afundados no pântano do atraso
socioeconômico, ético, moral e civilizacional.
E quando me manifesto sobre apolítica brasileira, ressalto não sou de ideologia nem de esquerda e muito menos de direita. O que externo é o uso da razão, do bom senso e principalmente do sócio-cientifico, isso sim é que me interessa e ponto final.
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