29 de maio de 2021

O Ministério da Morte da República Antidemocrática Bolsonariana

 Por Sierra


Foto: Reprodução
Som ambiente do desgoverno: "Tô nem aí, tô nem aí. Podem morrer milhões que eu não tô nem aí"


 

Definitivamente o senhor general generalíssimo Eduardo Pazuello merece receber a maior das condecorações concedidas pela República Antidemocrática Bolsonariana, porque, como ele próprio disse, com o peito bastante estufado, “cumpriu a sua missão”. Qual seja: aceitou ficar à frente de  um Ministério da Saúde inteiramente desacreditado e criticado e, por isso, muito acertadamente chamado de Ministério da Morte; foi de uma inaptidão absurda enquanto lá esteve; passeou sem máscara num shopping center de Manaus, cidade que ficará historicamente marcada como o retrato mais lamentavelmente fiel da má gestão contra o avanço da pandemia do coronavírus, porque lá até oxigênio em hospitais faltou; adiou a sua ida à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para treinar sua fala, tendo alegado para o adiamento, ter mantido contato, imaginem, com pessoas que testaram positivo para a covid-19 – será que foi no shopping manauara? -; foi à CPI e mentiu a valer como se não existisse amanhã visando, coitado, conferir a si uma importância e uma eficiência que não tem e, principalmente, livrar de quaisquer responsabilidades o seu chefe-supremo, Jair Bolsonaro, pelo morticínio que continua em curso e até o dia de hoje ceifou 461.142 vidas nesta republiqueta cheia até o gogó de canalhas e de mistificadores da realidade; e, coroando tudo isso e mandando o regulamento disciplinar do Exército para as cucuias, no domingo passado, o general generalíssimo participou, sem máscara, claro, de um ato político com o seu chefe-supremo e outros cupinchas, no Rio de Janeiro.

Mostrando quão abissal e desdenhosa para com a vida das pessoas comuns, que não têm acesso, por exemplo, a tratamentos em hospitais do padrão de um Albert Einstein, de São Paulo, é a sua participação no Ministério da Morte, a senhora Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde, foi à CPI na última terça-feira enfrentar a sabatina dos senadores. Cheia de si e exibindo a empáfia própria dos truculentos e irresponsáveis que fazem o mal dizendo que agem pensando no bem comum, ela, que defende um suposto tratamento precoce contra a covid-19, além de várias mentiras checadas por sites de notícias, deu uma declaração que eu considero o resumo da filosofia de todo o desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana: ela disse que o Ministério da Saúde não é obrigado a seguir orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e nem de sociedades médicas; a não ser, segundo ela, que tais recomendações estejam de acordo com o que pensa o corpo técnico do ministério. A coisa ficou bem clara, leitor, ou é preciso que eu desenhe?

Gente, pautar diretrizes de um Ministério da Saúde ignorando recomendações da OMS e de inúmeras sociedades médicas com o fito de fazer valer uma vontade própria que ainda por cima tem o agravante de ser política de Estado, não é ter apreço pela vida alheia, não; é, muito pelo contrário, um completo e total desprezo pelo bem-estar dos indivíduos. Toda vez que eu ouço ou leio defesas intransigentes de uso da cloroquina, hidroxicloroquina e outros medicamentos para “preventivamente” combater a covid-19 eu fico me perguntando: quantos dos 461.142 que até hoje perderam a vida neste país, que é um dos campeões mundiais em automedicação, consumiu tais fármacos e tiveram e/ou continuaram com seus quadros clínicos graves?

O desgoverno da República Antidemocrática Bolsonariana está repleto de ministérios cuja denominação não condiz com o que os seus comandantes – para usar uma palavra cara ao cunho militar e autoritário que ele a todo tempo expressa – andam a estabelecer: um Ministério da Educação que deseduca; um Ministério do Meio Ambiente que incentiva e compactua com a degradação dos ecossistemas; um Ministério da Economia que não promove o crescimento econômico e nem estanca e nem diminui o desemprego; um Ministério da Saúde que segue diretrizes próprias e incentiva que os cidadãos ajam como cobaias de experimentos medicamentosos sabida e comprovadamente reprovados; e por aí vai.

Hoje, apesar dos riscos de contaminação pelo coronavírus, milhares de indivíduos ligados a diversos movimentos sociais – não só os ditos de esquerda – saíram às ruas para protestar contra este estado de coisas em várias cidades deste país, porque, como há tempos se diz, quem cala, consente. Aqui em Pernambuco houve um confronto entre Policiais Militares e manifestantes; dada a cooptação e o apoio que muitos militares delegam ao desgoverno do senhor Jair Bolsonaro, chego a pensar que a ação teve um quê de provocada a fim de desacreditar e jogar a sociedade contra o movimento, uma vez que, tantos e tantos atos de manifestação foram realizados por grupos pró-desgoverno durante a pandemia e nada de os PM’s agirem para coibi-los. Bem, o episódio há de ser apurado. E, preparem-se, os confrontos nas ruas entre apoiadores e opositores só tende a se agravar até o próximo pleito eleitoral.

Enquanto o apagão elétrico não chega para lançar de vez o desgoverno na completa escuridão, pululam, aqui e ali, análises que apontam que o senhor Jair Bolsonaro anda testando os pilares do regime democrático ao mesmo tempo em que faz de tudo para manter e/ou garantir o apoio das Forças Armadas aos seus propósitos antidemocráticos. A mim me parece que, todas as vezes em que o esquizofrênico chefe-supremo da República Antidemocrática Bolsonariana põe os militares na roda, como pôs o fantoche do Eduardo Pazuello no evento ocorrido no Rio de Janeiro, está, na verdade, espezinhando a autoridade das Forças Armadas, muito, muitíssimo mais do que na época em que fazia parte de suas fileiras e ameaçava detonar bombas em quartéis para pleitear aumento de salário. Pelo que se vê e pelo que se ouve, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, ativos e da reserva, não podem jamais negar que não sabiam que Jair Bolsonaro é o que é. Eles igualmente não podem negar, como dizem uns e outros, que dinheiro compra até amor verdadeiro e que ele compra, também, patriotismo exacerbado, perverso e inconsequente.

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