Por Sierra
Imagem: Internet Cada dia que passa, os que têm olhos para ver e ouvidos para ouvir o que acontece fora de suas bolhas, vêm se dando conta de que o desgoverno do senhor Jair Bolsonaro é um tremendo fracasso social. Notícias falsas, Seu Jair, não farão sumir os milhões de famintos que estão se avolumando mais e mais por este país afora |
I
Sabe-se que o general
Eduardo Pazuello foi submetido a um ensaio – ensaio, não, a um treinamento, que
fica mais apropriado, já que se trata de um militar -, uma espécie de
laboratório, como dizem atores e atrizes, para que ele “atuasse” com alguma
desenvoltura, com uma convincente desenvoltura, melhor dizendo, durante a
sabatina na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que queria saber como fora
a sua desastrosa e nociva passagem pelo comando do Ministério da Morte, ops, da
Saúde. O divulgado ensaio, ops, treinamento me fez duvidar daquela alegação que
o valente general expusera como motivo para adiar a sua ida à CPI. Desconfio que
o que ele queria era ter mais tempo para ensaiar, ops, treinar. É um danado
esse Eduardo Pazuello.
II
O senhor presidente da
República Jair Bolsonaro, como eu já disse noutro dia, anda ainda mais
perturbado que normalmente com a dianteira nas pesquisas de intenção de voto do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que, apesar e apesar de tudo de ruim
que capitaneou, como dizem as autoridades judiciárias, no terreno da corrupção
sistêmica que marca a atividade política neste país, não perdeu prestígio entre
milhões e milhões de cidadãos que de algum modo se beneficiaram com o muito de
ação social e de cidadania que os governos dele promoveram, um capital político
que dele ninguém e nenhum juiz poderá tirar, cumpra ele o tempo de prisão que
tiver de cumprir.
III
Pária no atual contexto da
geopolítica mundial em várias frentes e, especialmente, no quesito preservação
ambiental, o desgoverno do senhor Jair Bolsonaro, cujo mote é uma muitíssimo
propagandeada honestidade e zero corrupção, foi marcado nesta semana, vejam só
que pauleira, com uma ação da Polícia Federal que está investigando supostos benefícios
a madeireiros ilegais distribuídos pelo Ministério do Meio Ambiente, que é
conduzido por Ricardo Salles, o mesmo Ricardo Salles que na reunião do Dia do
Canalha, no ano passado, propôs que se aproveitasse o tempo em que os olhos da
sociedade estavam voltados para a pandemia do coronavírus, para fazer e
acontecer no ministério por ele chefiado a fim de abrir a porteira e deixar a
boiada passar. É, parece que a porteira dele fora realmente escancarada.
IV
Eu quase ia dizendo que não
compreendia por que o noticiário vem gastando tanto tempo com o caso da morte
do denominado MC Kevin. Acontece que eu compreendo ou, pelo menos, penso que
compreendo. Antes do fatídico dia em que esse funkeiro morreu, eu nunca ouvira
falar em seu nome e nem escutado nenhuma de suas músicas. Embora o fato de eu
até então não ter conhecimento de sua existência não quer dizer que ele não
tivesse alguma importância para o cenário musical brasileiro. O que me chamou a
atenção no caso não foi a narrativa regada a drogas e sexo, mas o relevo que
até agora vem se dando ao episódio. Quem era MC Kevin ao lado de um Cassiano,
que faleceu dias atrás, e de quem pouco ou quase nada se falou? A resposta são
os acervos de músicas que um e outro deixaram. Repetiu-se agora o que se
verificou na ocasião do falecimento do Fernando Brant e do Cristiano Araújo. Somos,
enfim, nestes tempos de futilidades artísticas, uns mediocrões.
V
Pelo que foi visto nos dois
dias nos quais ele foi inquerido pelos senadores na CPI, o general Eduardo
Pazuello seguiu à risca o script do
que ensaiara, ops, treinara no Palácio do Planalto. Portais de notícias, como o
G1, computaram que o destemido
general mentiu diversas vezes: mentiu quando disse que as medidas de isolamento
com vistas a conter o contágio pelo coronavírus não foram cientificamente
comprovadas; mentiu quando disse que o Ministério da Saúde não escondeu o
número de vítimas fatais da covid-19; mentiu quando disse que o Supremo
Tribunal Federal limitou as ações do governo federal no enfrentamento da
pandemia; mentiu quando disse que na crise do zika vírus a cloroquina, em altas
doses, fora colocada como protocolo pelo Ministério da Saúde para grávidas;
mentiu quando disse que esse medicamento é um antiviral e um anti-inflamatório;
mentiu quando disse que não fora formalizada nem interrompida pelo governo
federal uma anunciada compra da vacina CoronaVac; mentiu quando disse que a
plataforma TrateCOV não chegou a
entrar em operação; e mentiu e mentiu e mentiu... Mentiu tanto, coitado, que até
passou mal. Será que foi por causa do peso da consciência? Duvido. Para quem se
arvora de ser o guardião da moralidade e da honestidade, o senhor Jair
Bolsonaro e os seus cupinchas mentem que só a gota. Junto com a prática
habitual da mentira eles mantêm o exercício diuturno de culpar os outros por
suas malfeitorias e aberrações.
A verdade mais verdadeira
que o intrépido general Eduardo Pazuello levou para os senadores foi a
afirmação de que ele cumprira a sua missão no Ministério da Saúde. Disso ninguém
duvida: ele encontrou um cenário ruim e o deixou pior. Missão cumprida,
general. O senhor, por isso, é digno de merecer um elogio individual no boletim
interno de sua Corporação.
VI
Engrossando, digo,
aumentando o rol de disparates como só ele mesmo é capaz de fazê-lo, o senhor
Jair Bolsonaro chamou de idiotas as pessoas que ficam em suas casas e só saem
quando realmente precisam, porque temem ser contaminadas pelo coronavírus. Seu Jair,
será que eram idiotas os 448.291 indivíduos que até hoje morreram depois de ter
sido contaminados pelo coronavírus?
Ontem, enquanto eu jantava
no pequenino restaurante Bigode, na
minha Abreu e Lima natal, um cidadão, que estava na mesa ao lado da que eu me
encontrava, disparou contra o proprietário do estabelecimento, que é um
bolsonariano roxo:
- Lobão, Lula fazia o povo
sorrir; e Bolsonaro faz o povo morrer.
VII
Caso a Polícia Federal
confirme as suspeitas que pairam sobre o ministro Ricardo Salles, o tocador de
boiadas, e os seus sequazes, a investigação será duplamente fatal para o
desgoverno de Seu Jair: lançará de vez uma pá de cal sobre as supostas honestidade
e integridade de sua gestão; e confirmará, aos olhos do mundo – e hoje se soube
que os Estados Unidos estão mandando para cá um carregamento de madeira ilegal
que chegou ao país –, mais uma vez, o que se tem repetidamente dito: que o
desgoverno do senhor Jair Bolsonaro é, também, um ferrenho inimigo do meio
ambiente.
VIII
Ah, gente, não pense que eu
esqueci de me juntar às pessoas que estão acrescentando mais itens à lista que
começa com “imorrível”, “imbrochável” e “incomível” e que se destina a definir
por inteiro a pessoazinha do senhor Jair Bolsonaro. Vamos lá: imprestável,
intragável, execrável, abominável, detestável, insuportável, reprovável,
culpável, irresponsável, intolerável, processável, rejeitável, deplorável, lastimável,
miserável, irrecuperável, ineducável...
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