Fazendo tudo corretamente errado

 Por Sierra

 

Foto: Reprodução
 Lá vem o esquadrão da morte.
Ai de nós, senhor presidente, se não fosse o tal do “jornalismo canalha” para nos informar de seus crimes, de suas peraltices, de suas perversidades e de suas maledicências. O senhor continua irrefreavelmente fazendo tudo corretamente errado. O senhor é um prodígio da maldade e da estupidez

I

Nesta semana o presidente da República Jair Bolsonaro deu pelo menos dois pitis contra o que ele chamou de “jornalismo canalha”. Um dos esportes preferidos do psicopático ocupante do Palácio do Planalto é achincalhar a mídia, em geral, e a Rede Globo, em particular.

O grande problema do desgoverno do senhor Jair Bolsonaro é a Rede Globo? Então, I love you, Rede Globo!

II

Como todos nós sabemos a ordem do discurso sempre é adequada às circunstâncias. Caso a operação de busca do criminoso Lázaro Barbosa tivesse sido exitosa logo nos primeiros dias, uns e outros estariam dizendo que as forças policiais são bem treinadas e tal; mas, como se passaram dezoito dias e nada de pegarem o fujão, as explicações seguem se amontoando e as despesas com uma operação de tal envergadura que, até agora, já empregou centenas de policiais, helicópteros, cães farejadores, drones e câmeras especiais que fazem varreduras mesmo na escuridão da noite, segue aumentando. E ainda há quem acredite que as forças policiais são páreas para debelar o poder dos traficantes muito bem armados em áreas como as favelas do Rio de Janeiro.

Estou começando a pensar que esse Lázaro se mancomunou com o curupira, a caipora e o saci pererê e já se encontra bem longe de Cocalzinho de Goiás. Mas não vou me espantar se qualquer hora dessas o encontrarem numa casa daquele advogado... Qual que é o nome dele mesmo? Deixa para lá; eu não consigo em lembrar.

Sugiro que, quando finalmente capturarem esse Lázaro Barbosa – daqui para o final do ano conseguem, não é possível -, as forças policiais escalem ele para instrutor de um curso de como se esconder, despistar perseguidores e se camuflar. Fica a dica.

 

III

O deputado federal Daniel Silveira, o fodão do colhão roxo, o defensor da lei e da ordem e da Constituição, detentor de um longo histórico de infrações cometidas durante o tempo em que era policial militar, voltou para a prisão dias atrás por ter mais de trinta vezes violado o uso da tornozeleira eletrônica. O senhor Daniel Silveira quer fazer a sua claque acreditar que ele é um “preso político” perseguido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), quando, na verdade, ele é um “político preso” em razão de uma série de delinqüências que cometeu.

IV

O homem do berrante possante do desgoverno do senhor Jair Bolsonaro, o inimigo nº 1 das florestas, dos animais silvestres e dos rios, o amigo fiel de madeireiros e garimpeiros ilegais, o intrépido e incansável Ricardo Salles que, justamente por todos esses qualificativos, figurava como ministro do Meio Ambiente, aumentou a lista de ex-combatentes de Seu Jair nesta semana. Pelo menos por enquanto e por vias legais ele não poderá fugir do país e da Justiça, como fez o outro basculho, Abraham Weintraub, porque o STF mandou apreender o seu passaporte.

V

Quais foram as motivações que levaram o deputado federal Luis Miranda e o seu irmão Luis Carlos, tidos como apoiadores do desgoverno bolsonariano, a vir a público e à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), em curso no Senado, relatar e delatar um possível caso de corrupção nas tratativas do Ministério da Morte, ops, Saúde para a compra da vacina indiana Covaxin? Teremos de aguardar os próximos capítulos desse enredo. O que de cara deu para notar, dada a reação irascível do honestíssimo senhor presidente da República, foi que ele tremeu na base com o que os Miranda falaram.

VI

Uma das maiores falácias – e esse desgoverno é pródigo em falácias – do senhor Jair Bolsonaro, o destemperado, o descontrolado, o incorrigível, o bravateiro, o esquizofrênico presidente da República brasileira, ao atacar o por ele denominado “jornalismo canalha” é a todo tempo afirmar que o STF o impediu de coordenar as ações de combate à pandemia do coronavírus ao dar autonomia aos governadores e prefeitos para que eles implementassem medidas que de algum modo pudessem salvaguardar a população da contaminação e, por conseguinte, das internações e mortes provocadas pelo vírus.

Como assim, Seu Jair? Como o senhor pode ficar repetindo essa cantilena infame de que o STF barrou o governo federal na atuação contra a pandemia se, desde o início, Vossa Excelência vem viajando pelos quatro cantos deste país para espalhar as ações e recomendações do seu desgoverno no enfrentamento dos estragos provocados pelo coronavírus? Por acaso, o senhor foi proibido de pedir às pessoas que desrespeitassem os protocolos sanitários, que não usassem máscaras, que participassem de protestos de apoio ao seu desgoverno e que, sobretudo, fizessem uso de medicamentos ineficazes contra a doença?

VII

O esquentadinho deputado federal Daniel Silveira, que evoca a Constituição quando lhe é conveniente fazê-lo, é um dos retratos mais fiéis da República Antidemocrática Bolsonariana: é truculento, boçal, desrespeitador dos fundamentos da democracia e, tal qual o senhor Jair Bolsonaro, um autocrata elevado à enésima potência. Ficou mais do que comprovado que tornozeleiras eletrônicas não conseguem deter certos animais políticos.

VIII

Poucos assuntos foram tão dominantes na mídia e nas conversas nos últimos dias quanto o dessa verdadeira caçada a Lázaro Barbosa. O criminoso Lázaro Barbosa é a representação cabal da Justiça injusta que impera neste país; um delinquente com vasta ficha criminal que, apesar disso, já gozou de tantas, por assim dizer, facilidades para continuar praticando crimes, que é como se o arcabouço punitivo legal não existisse de fato.

Criminosos continuarão reincidindo enquanto a Justiça permanecer reincidentemente injusta.

IX

Caso as coisas realmente ocorram como devem ocorrer, o tocador de berrante Ricardo Salles há de ver a boiada passar posicionado atrás das grades. Aboia, aboia, Salles!

X

Com a sua sanha autoritária e o seu espírito autocrático de quem pensa que está acima de tudo e de todos, inclusive, das leis, e que tem feito o que pode para convencer as Forças Armadas a darem mais um golpe militar neste país, o senhor Jair Bolsonar até hoje acredita que os órgãos de imprensa deveriam ficar submissos a ele e aos seus arroubos esquizofrênicos. O que queria o perturbadão do Palácio do Planalto? Que a “mídia golpista” endossasse a sua postura negacionista e arbitrária? Que se calasse diante dos seus desatinos e dos fatos? Que fizesse de conta que nada de ruim está acontecendo no Brasil? Que não noticiasse o número de óbitos provocados pela pandemia e nem a alta da inflação e da conta de energia e nem o elevado contingente de desempregados e nem o desmatamento da Floresta Amazônica?

Hoje mesmo o superhipermeganegacionista Jair Bolsonaro saiu mais uma vez, como uma besta-fera, pilotando uma moto por ruas de Chapecó (SC), seguido por outros igualmente irresponsáveis e negacionistas. Passear de moto em grupo é uma entre várias maneiras esquizofrenoides que ele encontrou de negar a realidade e dizer aos seus sequazes que tudo vai bem, obrigado, e que ele não está nem aí para a mortandade causada pela pandemia, porque, afinal de contas, quem morreu foi que se lascou. O que o senhor Jair Bolsonaro e todos aqueles que o seguem fazem é o que pode ser chamado de irresponsabilidade e indiferença de rebanho.

Ai de nós, senhor presidente, se não fosse o tal do “jornalismo canalha” para nos informar de seus crimes, de suas peraltices, de suas perversidades e de suas maledicências. O senhor continua irrefreavelmente fazendo tudo corretamente errado. O senhor é um prodígio da maldade e da estupidez.

Como essa gente estúpida, hipócrita, irresponsável e covarde acredita que torcida altera alguma coisa, eu vou continuar aqui, no meu cantinho, torcendo sempre e sempre contra ela.