17 de julho de 2021

Machismo: um mal causador de muitos males

 Por Sierra

 

Imagem: Internet
A banalidade da violência e/ou das violências que são praticadas contra as mulheres está na base do amesquinhamento de uma sociedade que se crê evoluída e que, ao mesmo tempo, não quer, exatamente isso, não quer abrir mão da brutalidade como recurso legitimador de superioridade e de mando. Espécie de baliza a separar o forte do fraco, a violência, principalmente física, que os homens dispensam às mulheres é o leitmotiv de todo um processo que busca incessantemente enquadrá-las e colocá-las em posições e/ou situações de submissão e subserviência


O machismo é opressor. O machismo é tirano. O machismo é prepotente. O machismo é aprisionador. O machismo é anulador. O machismo é preconceituoso. O machismo é punitivo. O machismo é violento. O machismo é difamador. O machismo é depressor. O machismo é castigador. O machismo é traiçoeiro. O machismo é limitador. O machismo é covarde. O machismo é vingativo. O machismo é humilhante. O machismo é rancoroso. O machismo é espancador. O machismo é silenciador. O machismo é cafajeste. O machismo é atroz. O machismo é vil. O machismo é tenebroso. O machismo é estuprador. O machismo é abusivo. O machismo é aproveitador. O machismo é misógino. O machismo é psicopata. O machismo é egoísta. O machismo é ameaçador. O machismo é homofóbico. O machismo é inconformado. O machismo é mau perdedor. O machismo é desagregador. O machismo é torturador. O machismo é desrespeitoso. O machismo é destruidor. O machismo é brutal. O machismo é nocivo. O machismo é corrosivo. O machismo é assassino.

Ao longo desta semana o noticiário foi amplamente marcado pelas cenas de brutalidade protagonizadas por um indivíduo conhecido como DJ Ivis que, como se diz aqui em Pernambuco, não honra a calça que veste, porque, covardemente, agrediu a então esposa, fazendo dela um saco de pancadas.

A violência, em geral, e a que atinge as mulheres, em particular, é algo tão corriqueiro e tão comum em nossa sociedade que esse estado de coisas é por muitos tomado como algo banal e comum. E essa, por assim dizer, normalidade, no que se refere às mulheres, evidencia o que talvez seja o aspecto mais daninho do machismo, que é o de fazer tantos acreditar que isso é assim mesmo desde que o mundo é mundo e ninguém há de mudar tal realidade.

Todos os dias centenas de mulheres são estupradas, espancadas e mortas por desconhecidos ou por atuais ou ex-companheiros delas. O cômputo das estatísticas é assustador e dá bem a medida do quão o sistema penal é ignorado pelos agressores e criminosos que estão espalhados por todos os segmentos sociais. A lei, seja ela branda ou severa, não consegue barrar a escalada de violência contra as mulheres porque, a meu ver, muito mais do que um caso de polícia e de justiça, isso é um caso de educação familiar e formal, de cultivo de valores morais e éticos e de compreensão da vida que nenhuma lei e nenhuma punição são capazes de incutir na mente de quem quer que seja.

A banalidade da violência e/ou das violências que são praticadas contra as mulheres está na base do amesquinhamento de uma sociedade que se crê evoluída e que, ao mesmo tempo, não quer, exatamente isso, não quer abrir mão da brutalidade como recurso legitimador de superioridade e de mando. Espécie de baliza a separar o forte do fraco, a violência, principalmente física, que os homens dispensam às mulheres é o leitmotiv de todo um processo que busca incessantemente enquadrá-las e colocá-las em posições e/ou situações de submissão e subserviência. Desse modo, uma, digamos, licença para que elas deem um passo a mais e/ou avancem em qualquer seara que, vá lá, signifique uma equiparação de direitos e deveres e até certa emancipação – eita palavra transgressora! – feminina está atrelada ao estabelecimento latente ou abertamente declarado de que tais avanços de maneira alguma liberam as mulheres de sua submissão aos homens, para que a História da humanidade permaneça, em linhas gerais, como sempre foi, ou seja, uma História de dominação, de mando e de violência dos homens com relação às mulheres.

É bastante sintomático desses movimentos moralizadores e desses discursos dos chamados grupos conservadores da sociedade, que a alardeada – em tom de pregação religiosa, que não é mero recurso de retórica, porque, ao conferir um tom religioso ao que é dito busca-se, de antemão, blindá-lo contra críticas e reprovações – defesa da denominada “família tradicional” incorpore, agregue e defina o núcleo patriarcal como elemento unificador e o sustentáculo dessa tal “família tradicional” na qual à mulher, coitada, caberá sempre o papel da dona de casa obediente e submissa ao seu marido. O discurso conservador, que ganhou mais espaço nos últimos anos com a chegada do senhor Jair Bolsonaro à presidência da República, um Jair Bolsonaro que já constituiu até o presente momento três “famílias tradicionais”, prega, para as mulheres, a manutenção do seu status de cidadão de segunda classe.

Depois de cometerem as formas mais contundentes do machismo, como estuprar, espancar, esfaquear e matar, uns pedem desculpas, alguns suplicam perdão e outros até choram, mas nenhum deles muda o comportamento e nem abre mão de continuar sendo machista.

Eu ia quase dizendo que é uma grande tolice acreditar que o machismo-raiz impregnado na sociedade brasileira irá pouco a pouco enfraquecer à medida que mecanismos punitivos, como a Lei Maria da Penha, leve mais e mais agressores e assassinos de mulheres para trás das grades. Contudo, é mais reconfortante apostar nessa possibilidade do que se conformar com o livre arbítrio da covardia e da brutalidade levada a cabo por tão absurdo, desprezível e infame comportamento

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