Por Sierra
Nos últimos meses,
praticamente em todas as semanas, o Terminal Integrado de Passageiros de
Igaraçu recebeu a visita de algum órgão de imprensa que, como várias vezes eu
testemunhei, costuma aparecer por lá nas primeiras horas da manhã para
registrar o grande número de passageiros que se aglomeram em meio a uma
estrutura física sucateada e em progressiva degradação.
Não sei se existe na Região
Metropolitana do Recife outro terminal que se encontre em tal estado de
abandono como o de Igaraçu, onde, fazendo para com uma obra de ampliação da
área de circulação dos ônibus abandonada, os usuários do transporte público têm
de conviver com acessos esburacados, banheiro masculino sem privadas e
mictórios, telhado servindo de moradia para pombos e cercas caindo aos pedaços.
Na quarta-feira 1º de setembro,
novamente o terminal foi visitado por uma equipe de jornalismo, desta feita, da
TV Guararapes. Eu me encontrava por lá, por volta das 6h30. Na semana anterior
haviam começado a tapar os buracos que estavam impossibilitando os motoristas
de realizarem manobras, o que só fez piorar as condições de embarque e
desembarque – os BRT’s, por exemplo, não podiam e continuam sem poder entrar; e
as pessoas têm de ir embarcar e desembarcar no lado de fora do terminal, na
maior correria. Naquele dia, à tarde, eu flagrei uma movimentação de
trabalhadores promovendo reparos emergenciais por ali; reparos esses que, pelo
que eu vi depois, não alteraram muito as péssimas condições em que se encontra
o tal equipamento urbano e que até hoje não foram finalizados.
Fazendo contraste com o
estado degradado do terminal os administradores puseram, há meses, homens
organizando as filas para embarque e uns rapazes que, usando trajes apropriados
para tanto, aplicam no ambiente um produto com vistas a impedir a propagação do
coronavírus, segundo me disse um deles. Além disso, não é de hoje, o terminal
dispõe de uma boa equipe de limpeza, que atua para fazer o melhor que pode a
fim de tornar o ambiente pelo menos asseado para os usuários, já que a
estrutura está bastante degradada.
Dada a pequena estrutura
física do terminal de Igaraçu – pequena quando comparada, por exemplo, com as
dos terminais da PE-15, em Paulista e em Olinda -, uns e outros se perguntam
por que não há verba para ser investida ali, porque se entende e se supõe que
para um espaço tão diminuto não seja necessário tanto dinheiro assim para
deixá-lo em condições no mínimo apresentáveis para os seus usuários. E eu sou
levado a acreditar que, se não fosse pelas repetidas aparições da degradação na
mídia, os tais paliativos que começaram a ser feitos há quase um mês, não
teriam sido iniciados.
Os que, como eu, frequentam o
Terminal Integrado de Passageiros de Igaraçu, assistem a um estado de coisas
que é inteiramente incompatível com uma propagandeada política de melhoria da
mobilidade urbana em si, no que diz respeito a fluidez do tráfego dos coletivos
pelas vias, como também da qualidade do serviço e dos ônibus que são
disponibilizados para os usuários. Discutir mobilidade urbana requer uma visão
ampla da questão que passa evidentemente pelas condições dos terminais, dos
serviços que são prestados, pelos ônibus que são disponibilizados para o
transporte dos passageiros, além, claro, do valor da tarifa a ser paga. Ninguém,
aqui ou em qualquer lugar que seja, quer pagar caro para dispor de terminais
sucateados e muito menos para se deslocar em ônibus superlotados, que é um dos
absurdos que vigoram neste país, que exige o uso de cinto de segurança nos
carros e multa que não cumpre a determinação e ao mesmo tempo fecha os olhos
para a situação em que as pessoas circulam nos ônibus do sistema de transporte
público de passageiros. Quem paga por um serviço espera que, no mínimo, seja
oferecido algo que atenda a contento as suas necessidades.
Quando chega a estação do
sol o terminal de Igaraçu fica ainda mais infernal, porque é grande o número de
pessoas que transitam por ele a caminho da Ilha de Itamaracá, numa movimentação
que começa a se intensificar nas sextas-feiras, sem que o sistema aumente a
quantidade de viagens para aquele balneário, fazendo com que os ônibus só saiam
superhipermegalotados dali.
O que se tem visto no
sistema de transporte público de passageiros, ao menos na Região Metropolitana
do Recife, é que as promessas de avanço da mobilidade urbana até agora não se
cumpriram efetivamente, basta para isso que seja analisado o caso dos BRT’s
que, dado o mau planejamento quanto a distância entre as plataformas de
embarque, como se verifica no percurso que vai de Igaraçu até o Recife, tirou
deles a rapidez do deslocamento que era para eles terem. E, numa realidade de
crescimento populacional, insistir em disponibilizar apenas ônibus sem pensar
em investir na implantação de trens e metrôs, a mim me parece, é querer tratar
a questão sem atentar para a sua complexidade em meio a cenários urbanos cada
vez mais caóticos e apinhados de veículos automotivos.
Com sua estrutura física degradada, com suas obras de reparos intermináveis e de ampliação abandonadas e com o seu descaso para com o bem-estar dos usuários, das pessoas que dependem do transporte público de passageiros para ir e voltar dos seus compromissos, o Terminal Integrado de Passageiros de Igaraçu segue sendo a síntese de tudo o que de ruim um sistema que é mal gerido e administrado pode ofertar.
O descaso com a população é gigante. No entanto, daqui pra frente basta nas urnas escolhermos novos governantes não pela péssima qualidade do rival, mas sim pela qualidade do seu escolhido.
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