11 de setembro de 2021

Sítio do Bolsonaro Amarelo

 Por Sierra

 

Imagem: Internet
Seria cômico se não fosse trágico: Seu Jair e sua trupe não perdem tempo tentando desmoralizar a democracia e fazer a sua revolução dos bichos. Cuidado, Seu Jair, que a Cuca te pega

Como muito bem disse Belchior, o saudoso filósofo-compositor-cantor sobralense, “viver é melhor que sonhar”. Digo de mim para mim – e para você que agora me lê – que a democracia é melhor do que qualquer ditadura, tenha o regime de exceção o fundamento e a cor que tiver.

Parafraseando aquele cearense eu digo ainda que rir é melhor que chorar, é melhor que sentir dor, é melhor que sofrer. Por isso, em que pesem os fatos ruins e as amargas lembranças dos 11 de Setembro dos Estados Unidos e do Chile rememorados nesta data em várias partes do mundo, façamos de conta que hoje é o dia da galhofa, o dia do chiste, da pilhéria, da zombaria, do escárnio, da troça, do gracejo. Por isso, mestre Gilberto Gil, releve e perdoe a parodiazinha que virá a seguir. Lá vai:

 

Patriotada é banana,

banana é patrioteiro;

falam de foice e de martelo.

Sítio do Bolsonaro Amarelo.

Sítio do Bolsonaro Amarelo.

 

Eles dizem que são gente

e que a gente não é gente.

O gado muge num universo paralelo.

Sítio do Bolsonaro Amarelo.

Sítio do Bolsonaro Amarelo.

 

Tchurutchutchutchuru, tchurutchutchutchuru...

 

Amarelar, diz o dicionário do alagoano de Passo de Camaragibe, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, significa, além de “tornar (se) amarelo” e “amarelecer”, “acovardar-se”. Depois de passar dias e dias aboiando, ops, convocando os seus apoiadores para fazerem e acontecerem durante o Dia da Independência, conhecido também aqui no Brasil como 7 de Setembro, o presidente da República Jair Bolsonaro, o Messias de fanáticos que adoram destilar ódio, disseminar o confronto e defender o fim da democracia, tudo isso em nome de Deus, da pátria e da família, fez um discurso raivoso em Brasília e dali foi para São Paulo, ainda mais possesso, atacar e ameaçar todos os seus supostos inimigos, em geral, e membros do Supremo Tribunal Federal, em particular, que, segundo ele, andam atrapalhando a sua desgovernança, como quem diz: “Mas será o Benedito que eu não posso fazer o que eu quero nesta porra?!”.

A multidão, enorme, é verdade, mugia, ops, aplaudia, vibrava e gritava palavras de (des) ordem e empunhava placas com dizeres os mais estapafúrdios e bestiais, próprios de quem está a viver num universo utópico onde não existem inflação e desemprego e nem muita, muita gente passando fome e rogando que do céu volte a cair maná. Pois tantas Seu Jair disse, pois tantas Seu Jair fez para inflamar os seus sequazes e o seu exército de fanáticos que levou muita gente a pensar que o Dia a Independência seria, doravante, chamado de Dia da Revolução dos Bichos. O entusiasmo era geral. O desemprego na casa dos 14 milhões e o entusiasmo era geral. A gasolina a R$ 7,00 o litro e o entusiasmo era geral, a inflação disparando, a conta de energia se elevando, o número de miseráveis e famintos só aumentando e o entusiasmo era geral. O entusiasmo, o contentamento e a euforia eram tamanhos que, sem conseguir conter sua grande emoção, um mal informado caminhoneiro em sua gana de fariseu patrioteiro festejou, em um vídeo que logo se espalhou pelas redes sociais, o “acontecimento histórico” de decretação de estado de sítio neste, com o perdão do trocadilho, imenso sítio-modelo em que tão brava gente quer ver transformado este país. Sinceramente, eu vi o vídeo e comecei a gargalhar a plenos pulmões.

Estado de sítio? Só que não. Dois dias depois de liderar e comandar o espetáculo bizarro de uma patriotada infame, disseminando o ódio, a discórdia, a desunião e a desobediência civil, Seu Jair, o capitão-presidente da República, amarelou; para usar uma expressão muito, muito chula que vigora nestas terras nordestinas que eu habito, ele “cagou no pau”; ele recuou, deu meia volta volver e tentou convencer os que o repelem e os que querem vê-lo longe, muito longe do Palácio do Planalto de que tudo o que planejou, tudo o que arquitetou para o 7 de Setembro e todo o mal e toda a desobediência civil que pregou naquela terça-feira maldita foi, pelo que se viu na cartinha ridícula que divulgou, um erro circunstancial, uma canalhice, uma vileza, um despropósito feito “no calor do momento”.

Dadas as inúmeras vezes em que o capitão-presidente, o bravateiro-mor da nação avançou o sinal e depois deu um passo atrás, como quem saiu de um porre ou voltou a tomar o seu remédio de tarja preta, eu fico a imaginar o que se passa na cabeça dos seus inflamados e inflamáveis seguidores. Não é que essas pessoas estejam em estado de hipnose, não é que esses ditos cristãos donos de certezas absolutas estejam como que fora do seu estado normal de consciência e, por isso, agem raivosa e cegamente. Esse é o comportamento normal deles. Isso o que nós vemos eles defenderem a todo custo é no que fundamentalmente eles acreditam e ponto. Não esperem que, de uma hora para outra, eles parem de praticar as maldades que andam praticando em nome de suas crenças políticas e religiosas, porque será disso para pior, uma vez que essa gente se julga senhora absoluta da verdade e fiadora da salvação do país.

Ainda não foi desta vez que Seu Jair conseguiu fazer a sua revolução dos bichos. Mas não nos descuidemos, porque sempre que ouve o toque do berrante o gado entra em forma e fica esperando pela ordem do dia. E fiquemos bem alertas, porque a polarização só acentuou o sangue nos olhos dos que se atacam. Há algo que eu costumo repetir: direita e esquerda vivem a disputar quem é mais autoritário e sanguinário; as virtudes e as qualidades que ambos os lados dizem possuir cabem com folga dentro de uma caixa de fósforos.

Recordando ainda Belchior, meu conforto é acreditar que, apesar de tudo, apesar de tudo que estamos vivendo, em algum momento isso vai acabar, porque o pasto vai secar e o gado vai ter de se virar.

Tchurutchutchutchuru, tchurutchutchutchuru...

Um comentário:

  1. É só o resultado de quase duas décadas de só uma "ideologia" no poder com muita corrupção por trás, aí surgiu o "herói" que promete "acabar" com a farra, mas na prática o pobre fica o pobre e o rico é mais rico, afinal o pão (bolsa/auxílio) e circo (carnaval/copa do mundo/festas) jamais deixarão de existir. Isso tudo só não é mais trágico que o elefante branco localizado em São Lourenço da Mata, que por mês gera um gasto de quase 1 milhão pra se manter fechado, show de horrores o país pobre, mas que consegue dar festa pra rico, show!!! Bem que uma matéria mostrando essa herança petista desastrosa seria excelente pra ver se alguns acordam e saem dessa polarização procurando uma terceira via, né não MONSTRO? KKKKKKK

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