Por Sierra
Ao longo destes meus 47 anos
de vida eu já fui vítima diversas vezes de um tipo de gente que sorrateiramente
se aproxima de nós e no momento que julga ser o mais conveniente vai lá e nos
dá um bote, nos dá uma rasteira e, quando não cai fora e desaparece da nossa
atenção, tenta encarnar a Madalena arrependida pedindo mil desculpas e perdões,
como se pedidos de desculpas e perdão restituíssem alguma coisa.
O aproveitador clássico
normalmente visa dinheiro e bens. Mas são múltiplos e variados os interesses
dos aproveitadores. Quem tem natureza de aproveitador não mira apenas um alvo
específico e/ou uma meta em particular; o aproveitador que é aproveitador o que
fundamentalmente quer é se dar bem, seja com o que for e em que circunstância
for sem se importar com o tamanho do ganho.
Sem querer bancar o santo,
eu sei que em algum momento ou em alguns momentos, melhor dizendo, consciente
e/ou inconscientemente, eu agi assim. Por isso eu falo com conhecimento de
causa. Por isso eu passei a me policiar e a não replicar o que, como eu disse,
pratiquei algumas vezes. Por isso eu procurei ser mais vigilante com quem se
aproxima de mim com vistas a abusar da minha bondade se passando pelo que não
é, fazendo teatrinho e desfiando rosários de problemas e misérias e
infelicidades e desacertos e coitadismos.
Bancando o sincerão
ultimamente eu tenho dito de pronto aos que olham para mim com desconfiança e
com um pé atrás quais são os meus propósitos, interesses e expectativas com
relação a eles. Caso o indivíduo julgue que não passo de um cabra safado, de um
merdinha pretensioso e abusado, de um cara de pau e até de um
aproveitadorzinho, ele resolve logo se cai fora e se sai do meu caminho.
Simples assim. Objetividade é a palavra-chave no meu trato tetê-a-tête, embora eu seja prolixo quando escrevo. Não estou para
enganos. Não tenho mais paciência para esperar que as coisas sejam clareadas
paulatinamente. Não. O meu negócio passou a ser feito de imediato, estabelecido
ali com tudo posto na mesa, às claras, sem arrodeios, como se diz por aqui,
porque eu decidi não perder mais tempo com avaliações demoradas, com passo a
passo, como que está num estágio comprobatório. Não quero mais isso para mim.
Chega.
Hoje, na academia, quando
contei a um colega que eu cansei de ser importunado por umas criaturas no WhatsApp e não titubeei em bloqueá-las,
ele comentou: “E tu és do tempo que bloqueia?”, como quem diz que o que eu fiz
foi um ato reprovável. Ora, então eu tenho que tolerar e/ou fazer de conta que
eu não estou sendo importunado? E aceitar que não é de bom tom e que reza a
etiqueta das redes sociais que é feio e mal-educado bloquear contatos? Como
dizia Lucineide, a personagem da saudosa Regina Dourado na novela Explode coração, “Stop, Salgadinho!”. Eu
pago é para não ser importunado. E não o contrário. So sorry, baby. Eu não sou obrigado.
Voltando para o assunto
aproveitadores, você que está lendo este texto chato e enfadonho de um narrador
que parece que não teve assunto para o dia e se pôs a escrever bobagens, certamente
já ouviu alguém dizer e/ou fazer troças do tipo: “Fulano disse que eu quero me
aproveitar dele. Mas meu Deus, o cara ganha um salário mínimo, paga aluguel,
tem uma mulher com cinco filhos e quando a gente sai lancha o combo coxinha e
suco de três reais. Eu tô me aproveitando de quê, me digam?”. A coisa pode até
soar como piada e esquete de humor, mas quem não conhece a natureza de um
aproveitador não sabe que o seu foco de interesse é muito amplo e diverso; e
não necessariamente está direcionado a grana e a bens materiais; muitos se aproveitam
para alugar o seu ouvido, para pedir favores de todo tipo, para pedir algo
emprestado e não devolver, para fazer você de empregado, para usar as suas
coisas, ou seja, agem para tirar qualquer mínima vantagem. Aproveitador é como
cupim, saúva, ferrugem e câncer: se apodera e
destrói e o que vai encontrando.
Nas minhas férias mais
recentes eu tive o grande desprazer de topar, em ocasiões diferentes, logo com
dois aproveitadores diplomados e com carteirinha. Macaco velho, gato escaldado
eu já não caio tão facilmente na lábia e na teia desses aracnídeos que andam
por aí a espreitar e a abordar os incautos e desavisados. Quando eles vêm com
os cajus, eu já estou com as castanhas assadas nas mãos. Ouço a conversa mole,
dou algum crédito para eles se vangloriarem e pensarem que encontraram mais um
trouxa e, quando eles menos esperam, eu caio fora, eu dou uma de Mestre dos
Magos.
Não se iluda, leitor, aproveitadores estão presentes em tudo que é canto; eles são onipresentes como o ar que respiramos. Abra os olhos, porque, às vezes, quem nos abraça e nos trata com tamanha e esfuziante consideração, quer tirar de nós até o que não temos.
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