Por Sierra
De acordo com um mais do que
repisado chavão, Freud explica. Deve ser isso mesmo. Será? Gente, agora eu
fiquei em dúvida. Eu ia dizer que, talvez, o fato de eu ter sido abandonado
pelo homem que engravidou a minha mãe explique este outro fato de eu, até agora,
nunca ter realmente buscado saber se eu sou mesmo o pai da filha de uma mulher
com a qual eu estive intimamente, uma única vez, há mais de vinte anos. Faltou-me
interesse. Faltou-me sensibilidade. Faltou-me solidariedade. Sobrou-me uma
certeza: erramos juntos, eu e ela. Talvez Freud explique isso. Ou não.
Eu já disse neste espaço,
noutra ocasião, que eu não sou de carregar fardos. E fardos, em nossa vida, não
são apenas objetos e coisas pesadonas; são, também, pessoas que nos incomodam,
sentimentos com os quais não sabemos lidar, ideias e pensamentos ruins; enfim,
tudo o que pesa demasiadamente e que obstaculiza o nosso seguir em frente é
fardo e deve ser deixado abandonado pelo caminho.
Eu sei quem eu sou. E é por
saber disso que, não raro, eu trato de abrir bem os olhos de certas pessoas que
criam expectativas sempre boas a meu respeito. E me afasto daquelas que
aparecem em minha vida para me tirar do eixo; e daquelas que posam de corretas
e me dão rasteiras; e das que me deixam na mão; e das que inventam mil desculpas;
e das que, descaradamente, agem como se nada de mal tivessem feito.
Detesto gente dissimulada,
sonsa e desleal. Detesto quem insiste em encarnar um personagem sem pensar nas consequências
disso, sem pensar no mal que está fazendo aos outros que embarcam, enganados,
em sua performance. Detesto gente que, em que pesem todas as evidências,
permanece fazendo de conta que está tudo bem. Detesto quem se esforça para não
sair do atoleiro em que se meteu.
Talvez por efeito desta pandemia
que não termina, talvez por puro e simples instinto de autopreservação, ou,
ainda, talvez, por intolerância e impaciência e falta de capacidade para
conseguir contornar deslizes e frustrações que uns e outros me causaram, eu, do
ano passado para cá, saí me afastando completamente de algumas pessoas, porque
essa foi a única forma que eu até hoje encontrei de tentar ficar em paz comigo
mesmo.
Eu sei quem eu sou. Eu sou
melindroso. Eu sou rancoroso. Eu não dou segunda chance. Eu recuso pedido de
desculpas. Eu recordo acontecimentos. Eu não omito medos e inseguranças. Eu refaço
passos. Eu olho para trás de vez em quando. Eu não disfarço sentimentos. Eu digo
do meu desconforto. Eu falo quais são as minhas insatisfações. Eu declaro que
não gostei disto ou daquilo. Eu não sonego fala. Eu não prendo choro. Eu exponho
a minha individualidade. Eu não nego o que eu sou e nem o que eu sinto.
As pessoas sacaneiam você. As
pessoas aprontam com você. As pessoas não pagam o que devem a você. As pessoas
caluniam você. As pessoas enganam você. As pessoas se aproveitam de você. As pessoas,
enfim, traem você e querem e esperam que você aja como se nada de ruim tivesse
acontecido; que você as compreenda; que você aceite que ninguém é perfeito, a
vida é assim e pronto e acabou-se. Comigo não, violão. Comigo o que não presta,
não presta. E do que não presta eu só quero distância.
Detesto gente que pensa que
todo mundo foi condenado a ser feito de trouxa e ser passado para trás. Detesto
quem, a esta altura dos acontecimentos, acredita que eu devo me dobrar
inteiramente ao peso da realidade em que vivo. Detesto gente desonesta,
cretina, boboca e covarde. Detesto, enfim, quem é perverso, mal educado,
arrivista, traidor, aproveitador, hipócrita e falso até dizer basta, durante o
ano inteiro, e, quando chega dezembro, sai mandando para os conhecidos
mensagens edificantes que para mim são tão verdadeiras quanto uma nota de R$
3,00. Detesto. Detesto. Detesto isso.
Nenhum comentário:
Postar um comentário