12 de fevereiro de 2022

Esses neonazistas incorrigíveis e o seu cinismo criminoso

 Por Sierra


Foto: ANSA
Repudiar veementemente e lançar luz sobre condutas de indivíduos que insistem em evocar o obscurantismo e as trevas pode até não nos livrar completamente dos males que eles propagam, mas, certamente, pode nos ajudar a nos preparar para enfrentá-los. Essas animalidades, essas bestialidades que se arvoram de ser seres humanos superiores aos demais seres humanos jamais vão agir almejando o bem comum


 

Nesta semana, no intervalo de poucas horas, mais uma vez o cinismo e a desfaçatez de quem, muito cheio de si, se julga acima da lei e dos mais simples códigos de convívio social, saiu por aí evocando e celebrando a ideologia supremacista nazista, aquela mesma que, partindo da Alemanha, lançou em fornos milhões de pessoas e cometeu outras atrocidades contra judeus, ciganos, portadores de deficiência física, homossexuais e outros “tipos de gente” que não se enquadravam e que não tinham vez e nem lugar numa ideia de sociedade onde só deveria existir um certo “tipo de gente”.

Por que nós continuamos assistindo a episódios como os que foram praticados por Bruno Aiub e Adrilles Jorge? Acusar pessoas que atuam fazendo apologia a monstruosidades como o nazismo de desconhecimento da História é, no mínimo, agir de modo ingênuo e diminuir a gravidade do delito. Não podemos de maneira alguma ser condescendentes com esse tipo de coisa e muito menos fazer de conta que isso não é grave e nem vai dar em nada.

O script é tão previsível que chega a ser tedioso se não fosse irresponsável e criminoso. O sujeito faz e acontece na internet com vistas a ganhar audiência e patrocinadores, ataca quem bem quer, demole a base do bom senso, passa por cima da ética e da moralidade, promove discursos de ódio contra minorias, aplaude ideologias desumanas e, depois, quando o negócio fica feio para o lado dele, põe-se com a maior cara de pau a pedir desculpas e/ou a negar que fez o que fez, que não fora a sua intenção, que a repercussão negativa foi desproporcional ao ato praticado, que ele está sendo perseguido, que tem muito mimimi por aí e até, que disse o que disse, porque estava bêbado, como anunciou o Bruno Aiub.

Como eu vinha dizendo não é que falte a essas pessoas que fazem apologia a barbaridades desumanas como o nazismo conhecimento da matéria. Não, é justamente o contrário. Esses indivíduos sabem muitíssimo bem do que estão falando; e é por saberem que eles tratam de pôr o dedo nas feridas com o único propósito de, como se diz por aí, causar e ganhar audiência, porque, sob essa lógica de mercado, amplamente difundida na internet, os fins sempre e sempre vão justificar os meios; e danem-se a comunidade judaica, danem-se os negros, danem-se os homossexuais, danem-se os portadores de deficiências físicas, danem-se, enfim, os que eles consideram como lixo social.

Por mais repugnantes, absurdas e execráveis que sejam as recentes demonstrações de uma, digamos, simpatia pelos ideais do hitlerismo, convenhamos que elas são perfeitamente condizentes com o cenário de terror que vivenciamos tendo na Presidência da República um indivíduo que é armamentista, misógino, homofóbico, insensível ao sofrimento alheio e glorificador de torturadores. Não nos esqueçamos de que figuras do desgoverno do senhor Jair Bolsonaro, como o ex-secretário da Cultura, Roberto Alvim, protagonizaram episódios de apologia ao ideário nazista.

O frequente e obstinado exercício de negação do Holocausto que se verifica no Brasil em várias partes do mundo sinaliza que a nossa vigilância e o nosso repúdio a esse estado de coisas também precisam ser frequentes e obstinados, do contrário, correremos um grande, um enorme risco de vermos sendo repetidas por aqui as mesmas atrocidades que os nazistas seguidores de Adolf Hitler infligiram a milhões de indivíduos nos campos de concentração erguidos na Europa. Não creio que a História só se repete como farsa; ela também se repete como uma espécie de dínamo, quase irrefreável, da brutalidade e da animalidade que em alguma medida em nós habitam.

Essa verdadeira “banalização do mal” – para usar uma expressão tão cara à filósofa alemã Hannah Arendt – não deve nunca, não deve jamais ser tomada como normalidade. Certa feita o filólogo italiano Umberto Eco afirmou que as redes sociais deram o direito à palavra a uma “legião de imbecis” que antes falavam apenas “em um bar e depois de uma taça de vinho, sem prejudicar a coletividade”. Eu vou além do que disse o autor de O nome da rosa; eu vejo que as redes sociais e a internet em si, como amplos campos democráticos que são, deram espaço também a uma grande legião do mal, a  pessoas que fazem uso dessas ferramentas para disseminar discursos de ódio, preconceito e perseguição a minorias e para divulgar notícias falsas. As redes sociais e a internet em si, em grande parte, foram transformadas em um imenso parlatório para indivíduos que pregam ideias e ideais retrógrados e desumanos.

Repudiar veementemente e lançar luz sobre condutas de indivíduos que insistem em evocar o obscurantismo e as trevas pode até não nos livrar completamente dos males que eles propagam, mas, certamente, pode nos ajudar a nos preparar para enfrentá-los. Essas animalidades, essas bestialidades que se arvoram de ser seres humanos superiores aos demais seres humanos jamais vão agir almejando o bem comum. Há pessoas que não conseguem ser efetivamente úteis à sociedade, que não têm uma experiência de vida que pode ser benéfica para o todo social, que desprezam o conceito de responsabilidade social, que menosprezam o sofrimento alheio e a memória da dor do outro e que, ainda assim, seguem pensando que só as suas vidas realmente importam. Não permitamos que tais indivíduos ajam impunemente. Não sejamos condescendentes e nem coniventes com a propagação dos males que eles difundem.

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