Por Sierra
Não é propriamente uma teocracia o que bolsonaristas e quejandos ambicionam implantar neste país. O que bolsonaristas e seus cúmplices e comparsas realmente querem é continuar com esse joguinho de cena de se mostrarem fiéis defensores da moral e dos bons costumes evocando passagens da Bíblia para justificar – porque, para eles, os fins sempre e sempre justificarão os meios – toda a perversidade e toda a intolerância de que eles são capazes de perpetrar.
É apoiado num discurso
autoritário e supostamente saneador que os bolsonaristas e seus cúmplices e
comparsas diariamente despejam nas redes sociais e onde mais seja possível o
seu catecismo pretensamente moralizador, pregando a homofobia, a misoginia, o
ataque às instituições democráticas, o armamentismo como ideal de sociedade e o
sepultamento das mais diversas manifestações culturais. O Evangelho segundo o bolsonarismo é intolerante, impiedoso, cruel e
desumano.
Não é difícil encontrar por
aí quem, portando uma Bíblia, é capaz
de fazer o diabo para se locupletar. E fazer o diabo e oferecer um quarto ao
diabo para se dar bem, em resumo, significa lançar mão de meios ilícitos,
significa enganar, ludibriar, pedir suborno ou subornar, tramar, passar a
perna, sabotar, falsificar, ameaçar e até mandar matar. Não é difícil encontrar
por aí quem, portando uma Bíblia, não
passaria no mais simples teste de honestidade, que é simplesmente dizer a
verdade e nada mais do que a verdade.
No tripé formado pela Saúde,
Educação e Segurança Pública o governo do senhor Jair Bolsonaro, que tanto
evoca o sobrenatural, falhou até o presente momento em tudo: os quase 260.000
mortos da pandemia são o retrato da incompetência do Ministério da Saúde; o
troca, troca de comando e a falta de projetos diz do abismo em que se encontra
o Ministério da Educação (MEC). E quanto à Segurança Pública? Bem, a inépcia no setor
resume-se ao “salve-se quem puder” do compre uma ou mais de uma arma de fogo e
faça você mesmo a sua segurança e a da sua família.
Enquanto insiste em fazer da
religião política de Estado, o senhor Jair Bolsonaro permanece convocando os
fiéis das religiões que lhe convém para apoiar as suas perversidades e
desumanidades, ao mesmo tempo em que outras, como as de matriz africana, o seu
governo segue discriminando.
Nesta semana, quem acompanha
o noticiário ouviu como funciona ou vinha funcionando a multiplicação dos
recursos, biblicamente falando, no Ministério da Educação que é atualmente
comandado pelo pastor presbiteriano Milton Ribeiro, pelo Milton Ribeiro que é
dado também a evocar o sobrenatural enquanto abre a boca para ofender
homossexuais e crianças com deficiências e que, até o presente momento, não
tirou do seu gabinete sequer um projeto de vulto visando à melhoria da
qualidade da educação deste país que, não é de hoje, apresenta um quadro
lamentável e preocupante e que as agruras da pandemia só fez agravar. Em tom
claro e nada hesitante, próprio de quem habitualmente fala diante de um púlpito,
o senhor Milton Ribeiro, o pastor presbiteriano Milton Ribeiro, o moralizador e
honesto cidadão Milton Ribeiro, o ministro Milton Ribeiro descreveu o modo como
os recursos de sua pasta são encaminhados pelo Brasil afora.
De acordo com a cartilha do
abecedário do senhor Milton Ribeiro, os necessitados, os mais necessitados são
aqueles que integram um grupinho formado, vejam só, por pastores. Mas será o
Benedito? Não, não é Benedito, não. Embora seja perfeitamente possível que a lista
de chamada, na verdade, comporte mais nomes de pessoas tão briosas e honestas,
o ministro Milton Ribeiro, o pastor presbiteriano Milton Ribeiro citou em sua
fala tão cheia e tão carregada de espírito de comunhão e de solidariedade para
com seus irmãos de fé, os senhores Gilmar Silva Santos e Arilton Moura que
calham de ser, também, imaginem vocês, pastores evangélicos. Como se isso fosse
pouco, o senhor Milton Ribeiro, o pastor Milton Ribeiro ainda disse que o
esquema de beneficiamento “foi um pedido especial” do presidente da República. E
o que se vem pondo a descoberto é que os ditos pastores cobravam propina ou
comissão para intermediar a liberação dos recursos. Depois que o áudio vazou, o
senhor Milton Ribeiro soltou uma nota negando o que claramente dissera. Não é
danado isso? Não é danado, não, é safadeza mesmo, é desonestidade, é canalhice.
Com uma conhecida veia
histriônica o igualmente pastor Silas Malafaia soltou o verbo a respeito do “esquema
do MEC”, falando em defesa do senhor Jair Bolsonaro e atacando a mídia que,
segundo ele, “odeia pastores”. Por que será que o senhor Silas Malafaia disse o
que disse hein? A mim me parece que o telhado dele é de vidro trincado; e que
ele joga para a “mídia que odeia pastores” a responsabilidade pelas
malfeitorias e crimes praticados por muitos pastores. Não, senhor Silas
Malafaia, a mídia não odeia pastores, mesmo porque, só quem tem uma mente tão
tacanha e eivada de ódio, como parece ser o seu caso e, talvez, o da maioria
absoluta dos bolsonaristas, que militam pela desunião e pela animosidade
permanentes, põe tudo no mesmo plano e diz que todos são farinha do mesmo saco,
que todos são desonestos e arrivistas. Nem todos os pastores e nem todos os
dirigentes que estão à frente de discípulos passam por cima dos princípios cristãos
e usam a Bíblia como espécie de caixa
de arrecadação de dinheiro para enriquecimento pessoal, senhor Silas Malafaia. Senhor
Silas Malafaia, não faltam entre pastores e dirigentes das mais variadas
denominações evangélicas quem cuida dos seus rebanhos e zela pelo conforto
espiritual dessa gente sem almejar a construção de impérios financeiros para
usufruto próprio.
No governo do atual
presidente da República não existe distinção entre o sagrado e o profano; tudo
foi posto num caldeirão só; e nele cabem, contando com o apoio de milhões de
brasileiros cristãos, que atestam que somos um povo cruel e desumano por
natureza, grandes porções de nazifascismo, supremacia branca, massacre de
minorias e, claro, fundamentalismo religioso.
Será que o pastor
presbiteriano Milton Ribeiro estava diante de um púlpito quando ele proferiu
aquelas tão esclarecedoras palavras? Eu não sei; mas, como está mais do que audivelmente
claro que esses ditos cristãos passam como um rolo compressor por cima do
mandamento que diz “Não roubarás”, eu imagino que os seus interlocutores, os
seus ouvintes, os seus comparsas ou seja lá o que aquelas pessoas que lhe
ouviam eram, devem ter mentalmente parafraseado um muitíssimo conhecido
versículo bíblico dizendo a si mesmas assim: “O senhor Milton Ribeiro é o meu
pastor e nada me faltará”.
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