Por Sierra
Aquele
trem já passou.
Se
passou, passou
Daqui
pra melhor.
Foi!
Só
quero saber do que pode dar certo.
Não
tenho tempo a perder. Go
back. Sérgio Britto/Torquato Neto
Eu
não sou um muro das lamentações. Existem pessoas que parece
que vieram ao mundo com um único propósito: lamentar. Lamentar pelo que é;
lamentar porque casou ou porque não casou; lamentar pelo salário que ganha;
lamentar porque se acha feia; lamentar porque está acima do peso; lamentar,
enfim, por quase tudo e até porque existe.
Como bem dizia a minha
adorada Avó, neste mundo não só existe todo tipo de gente, como também há gente
para tudo. E um desses tipos de gente é justamente o indivíduo lamentoso, a
criatura queixosa cuja vida parece ser um martírio sem fim.
Há quem demonstre ter uma verdadeira
paciência de Jó para lidar com esses seres humaninhos. Eu não. Eu não tenho
paciência nenhuma para aguentar cinco minutos de conversa com um lamentoso.
Primeiro, porque com gente assim você praticamente não dialoga, porque o
sujeito fala pelos cotovelos, não dá espaço para você, sempre tem razão e a
situação dele é a pior que existe. Segundo, porque, se você não se cuidar,
acaba sendo contaminado pelas lamúrias e pelas queixas dele. Terceiro, porque,
francamente, eu não tenho vocação alguma para psicólogo, analista ou algo que
os valha.
Quando alguém começa a falar
reclamando da vida eu já ligo o meu sinal de alerta para engatar a marcha e
sair em disparada. Cair fora numa situação dessas não é só evitar
aborrecimentos, é, também, uma eficaz estratégia de sobrevivência, porque o
lamentoso, o queixoso não se preocupa com a saúde mental do seu interlocutor,
não; ele não está nem aí para isso; o que ele fundamental e principalmente quer
é fazer de você um muro das lamentações – e muro, como todo mundo sabe, nada
fala, só escuta. E eu não estou na vida para encarnar esse tipo de coisa.
Quem aguenta isso? Eu não
aguento, não, minha gente. Eu me afasto. Eu sou egoísta demais para deixar que
arruínem a minha paz. Quer choramingar? Quer lamentar? Quer fazer drama? Quer
posar de maior injustiçado, de maior frustrado, de maior merda do mundo?
Procure outro ouvido para alugar, porque o meu está reservado para outra
serventia.
Desabafo é uma coisa, é algo
que todos nós, em algum momento, precisamos fazer; outra coisa é o lamento
permanente, é a queixa interminável como se a pessoa vivesse em prisão perpétua
com a dor e com sofrimento e mantendo o pensamento fixo na própria desgraça.
Um conhecido meu certa vez
me disse assim: “Sierra, não adianta dizer a fulano que o problema que ele
contou a você não passa de uma coisinha à toa, não passa de um probleminha,
porque, na cabeça dele, é um problemão e pronto”. Concordo plenamente com tal
avaliação. Acontece que eu não sou obrigado a bancar o legal, a bancar o
camarada, a bancar o amigão que tudo tem de suportar para o bem da humanidade.
Às vezes eu penso que o
lamentoso age de caso calculado para testar a nossa paciência. Só que comigo
tal estratégia não funciona, porque, além de ser impaciente por natureza, eu
não consigo só ouvir, ouvir e ouvir sem ter oportunidade para falar. E um dos
meus defeitos é não ser complacente para com quem demonstra querer me fazer de
trouxa e/ou abusar da minha bondade e da minha nobreza. Se eu tiver que ouvir
um lamentoso será durante pouquíssimos minutos; e, uma vez identificada a
criatura, nunca mais outra vez, never
more eu darei ouvido a ela.
Vou direto ao ponto: se
alguém me chama para conversar dizendo “Eu tô precisando falar urgentemente contigo”,
eu digo logo: “Eu não empresto dinheiro. Eu não sou psicólogo nem analista e
muito menos muro das lamentações”. Ora essa, com tanta gente por aí e a criatura
quer alugar o meu ouvido, logo a mim que tenho paciência zero para lidar com
tais espécimes?!
Nunca gostei disso; e não
será a esta altura da vida que eu vou reavaliar a minha conduta e passar a
tratar os lamentosos e os queixosos como gente de bem. Não, eu não vou. Para
mim, quem vive a lamentar por tudo que constitui a sua existência, de algum
modo faz mal a quem ele procura para alugar, porque, quem não consegue encarar
a vida como um desafio sem fim e como uma luta incessante, está neste mundo sem
compreender realmente as engrenagens de tudo o que nos move. Problemas?
Tristezas? Derrotas? Frustrações? Perdas? Fracassos? Quem é que, ao longo de
sua existência, não experimenta isso, me digam?
Longe de mim eu querer
bancar o insensível. Pelo contrário, eu sou até mais sensível do que gostaria.
O que acontece é que existem pessoas, existem comportamentos, existem coisas e
existem entendimentos acerca disso e daquilo que não servem para mim, porque
não se encaixam na compreensão que eu tenho do que eu sou e de como eu devo
estar no mundo.
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