As ardilosas e infames patranhas e intimidações do novo Comando de Caça aos Comunistas

 Por Sierra

 

Imagem: Charge de Jean Galvão/Folha de S. Paulo
 Triste a sina deste país que não sabe o real valor da democracia e nem conviver com os ideais que ela encerra e proclama.

A estupidez e a indisfarçável vontade que tem o tiranete de República Bananeira e presidente, Jair Bolsonaro, de mandar a democracia para o quinto dos infernos a fim de que, neste país, voltemos a respirar sob uma atmosfera de perseguição, terror e medo ao comando dos militares das Forças Armadas (FA’s) vêm demonstrando quão selvagens, ardilosas e infames são as patranhas e intimidações que estão sendo gestadas nos labirintos, intestinos e calabouços desse desgoverno que aí está.

Praticamente todos os dias o tiranete ataca os fundamentos da democracia e os comandantes da FA’s, ao que parece, compartilham, assinam embaixo e como que estimulam tal comportamento. O discurso do senhor Jair Bolsonaro visando ao soterramento dos ideais democráticos insiste em fazer a população não aceitar as instâncias da Justiça, a não acreditar no processo eleitoral e nas urnas eletrônicas e em continuar proclamando que o país corre o risco de ser transformado em uma nação comunista.

Os ataques ao sistema eleitoral, em particular, suscitam uma questão: caso o mentecapto Jair Bolsonaro seja reeleito a oposição poderá alegar que houve fraude ou o sistema só é e/ou será fraudulento se o dito-cujo perder? Neste quesito ele mais uma vez demonstrou o quanto é escroto e sacana e o quanto quer fazer as FA’s de marionetes ao afirmar que o ministro Edson Fachin foi “descortês” para com elas ao dizer, na quinta-feira, que quem trata das eleições são as “forças desarmadas”, um claro e contundente recado dirigido ao senhor Jair Bolsonaro que aproveitou o episódio para novamente jogar os militares contra o Supremo Tribunal Federal (STF). Por aí se tira como atua a máquina de trituração de reputações do desgoverno e se percebe as tentativas de manutenção de um clima de atrito e de beligerância entre os poderes da República. Quando os aliados cometem crimes em pronunciamentos, eles praticam “liberdade de expressão”; quando um ministro do STF faz uma afirmação incisiva, correta e óbvia pela verdade que encerra, o dito é descortês e serve para atiçar as FA’s.

O clamor anticomunista de agora parece ser uma reedição dos valores morais, cívicos e cristãos que levaram os destemidos comandantes das FA’s a decretar um governo ditatorial nos idos de 1964, mas é muito pior. É verdade que os horrores que se verificaram de 1964 a 1985, tempo em que durou o suposto governo salvador da pátria, continuam a assombrar os dias de hoje com suas narrativas apavorantes de torturas, mortes e ocultação de cadáveres que eram promovidas por quem integrava e/ou simpatizava com o Comando de Caça aos Comunistas que, verdade seja dita, era todo o governo em si, porque, sob a ótica dos que o constituíam, enquanto existisse um comunista solto e vivo por aí, continuaríamos correndo perigo de sermos submetidos a um regime de cunho marxista.

Quando eu digo que o que vemos hoje é algo muito pior do que o que se viu em 1964 e nos anos que se seguiram, é porque vivemos atualmente num tempo em que a produção e a circulação de informações não podem mais ser controladas, amarradas, enforcadas e negadas pelo governo central, como eram naqueles anos de censura e de construção de verdades autoritárias. Temos hoje uma ampla rede de canais de circulação de informações e de notícias que, em sua imensa maioria, não têm controle algum. E é aí que reside a grande questão do momento: tanto pior ou pior ainda que o controle, amarração, enforcamento e negação da realidade promovida pelo governo central é a fabricação em larga escala de notícias falsas e sua disseminação imediata, por quem quer que seja, como em nenhum outro tempo da História da humanidade ocorreu. E é apoiado nisso e arregimentando mais cupinchas para seus ideais autocráticos, que o tiranete Jair Bolsonaro vem dia a dia tratando de corroer os pilares da ainda jovem e imatura democracia brasileira, recorrendo a ataques sistemáticos ao STF, ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e à por ele chamada “mídia golpista”, que é toda aquela que não compactua com suas ideias ditatoriais e retrógradas. E, ao mesmo tempo em que pratica as suas barbaridades, o senhor Jair Bolsonaro incentiva os seus seguidores a fazer o mesmo.

Quando eu digo que o que vemos hoje é algo muito pior do que o que se viu em 1964 e nos anos que se seguiram, é porque naquele tempo existiam realmente pequenos grupos que almejavam cubanizar este país; grupos esses com os quais as FA’s lutaram uma luta desigual e contra os quais praticaram toda a sorte de atrocidades e os, digamos, “crimes de guerra”, que elas até hoje justificam e legitimam, e, nos dias que correm, não existe ameaça comunista alguma; e tanto pior ou pior ainda é que o tiranete do momento estimula o cidadão de bem a comprar armas de fogo para se proteger contra os supostos comunistas que estão tramando para dominar o Brasil.

Há muito de maligno, pernicioso, nocivo, perverso e ruinoso no desgoverno e na própria pessoa de Jair Bolsonaro; e, pelo que se tem visto, as FA’s estão dando aval a tudo isso. Por que a cúpula das FA’s está dando ouvido a um tiranete ensandecido como Jair Bolsonaro? Por que os militares aceitaram essa coisa absurda, para dizer o mínimo, de acompanhar as atividades do TSE? O que é que as FA’s têm a ver com o legítimo sistema eleitoral em vigor neste país? Os militares não param de ser humilhados com dispensas sumárias dos ministérios do desgoverno e permanecem dando apoio às sandices e às fake news que Jair Bolsonaro e os seus sequazes não cessam de produzir e disseminar. O que as FA’s estão esperando para dar um basta nisso? Será mesmo que elas estão embarcando cegamente no terror golpista do presidente? Tivessem sido dirigido aos comandantes das FA’s insultos e ameaças como os quais o deputado federal Daniel Silveira dirigiu aos membros do STF, eles baixariam a cabeça e aceitariam calados e passivamente um indulto presidencial concedido ao delinquente que os atacara e ameaçara? Por muitíssimo menos que isso nos quartéis  – a falta a uma escala de serviço ou a um ato de serviço, como uma reunião, por exemplo –, o militar, caso não consiga justificar a sua transgressão, pode ser punido até com prisão e/ou detenção.

Comandantes, os senhores ainda estão à caça de comunistas? Os senhores ainda acreditam que um movimento marxista pretende dominar este país? Os senhores estão empenhados em querer recomeçar os inquéritos e as perseguições, forjar suicídios e fazer corpos desaparecer? Lembrem-se de que, com a atual política do “seja patriota, compre uma arma”, os “inimigos” também se armam. E “inimigos” não são apenas os comunistas, não. São inimigos da nação os que querem subverter a ordem, os que militam contra o bem comum, os que querem minar a harmonia ente os poderes e os que, enfim e principalmente, são inimigos da democracia. Ditadura, respeitáveis senhores, nunca mais; e de coloração nenhuma: nem vermelha nem preta e nem tampouco verde e amarela.

Não sei dizer se o que estamos a assistir no desgoverno do tiranete Jair Bolsonaro é a uma cegueira ou simplesmente à cooptação pura e simples das FA’s, cujos membros estão deslumbrados com o poder e com  a engorda de seus contracheques. Seja ao que for, isso está nos levando para um precipício.

Senhores comandantes, com todo respeito, é mesmo a soberania nacional o que o Ministério da Defesa e as FA’s estão a defender desde que o desgoverno de Jair Bolsonaro teve início? Senhores, ladrões roubam e, às vezes, até cometem latrocínios; e tiranos, os senhores bem sabem, sempre e sempre fazem coisas muito, muito, piores do que isso. Os senhores, mais uma vez, estão embarcando num projeto de nação que distorce a realidade com vistas a justificar os males que pratica contra a maior parte da sociedade.

Triste a sina deste país que não sabe o real valor da democracia e nem conviver com os ideais que ela encerra e proclama.

Não nos deixemos intimidar pelas constantes ameaças de golpe. O medo faz parte da estratégia dos atuais ocupantes do Palácio do Planalto. Vamos, todos juntos, derrotar Jair Bolsonaro e os seus comparsas.