Por Sierra
A insatisfação, o
desconforto e a inconformidade parecem que estão longe, muito longe de
arrefecer entre os usuários dos transportes públicos de passageiros da Região
Metropolitana do Recife em virtude da chamada “integração temporal de linha”,
que consiste em embarcar/desembarcar/embarcar em vários ônibus pagando uma
única passagem dentro de um determinado tempo.
É claro que a implantação de
tal sistema desagradou aos usuários, que não se conformam com mais um item
negativo que se soma aos atrasos de viagens, à carestia do valor das passagens
e à superlotação dos ônibus, itens que foram mantidos mesmo em tempos de
pandemia. O que se tem visto, desde então, é a incorporação de diretrizes e o
estabelecimento de mudanças no sistema que vêm impactando de modo muito ruim o
cotidiano de quem diariamente precisa recorrer ao transporte público para tocar
a sua vida. As decisões, ao que parece, não miram o bem-estar e a satisfação
dos usuários, muito pelo contrário.
Nesta semana, como usuário
de transporte público de passageiros, eu acompanhei o desenrolar de mais
flagrantes de insatisfações e muitas reclamações, além, claro, de ações de
subversão contra o peso massacrante das decisões unilaterais que são tomadas
para tão somente melhorar a vida de quem não utiliza o sistema, ou seja, os
empresários do ramo rodoviário.
À medida que foi sendo
implantado em alguns destinos que partem do Terminal Integrado (TI) de Igaraçu,
o sistema de “integração temporal de linha” causou uma sensação de revolta e
indignação. Como eu disse no artigo anterior, retirou-se o único e grande
atrativo do Sistema Estrutural Integrado (SEI), vigente há mais de vinte anos,
que consistia em pagar uma única passagem e, de baldeação em baldeação nos
terminais, poder chegar a todos os destinos que interligam o SEI dentro da
Região Metropolitana do Recife. Ou seja, de uma para outra os administradores
do SEI trocaram a funcionalidade de um sistema consolidado por algo que, em
resumo, não proporcionou ganho e sim perda para o usuário. “Ah, mas agora a
pessoa pode embarcar também fora dos terminais pagando uma só passagem”, dizem
as autoridades.
Aparentemente isso foi um
ganho. Mas eu pergunto: será que os idealizadores do tal sistema de “integração
temporal de linha”, que certamente foi arquitetado e planejado como forma de diminuir
e/ou acabar com as perdas que o transporte público de passageiros vem
experimentando nos últimos anos, como constantemente se alardeia para
justificar as medidas impopulares, pensaram que ônibus atrasam na saída e na
chegada? Será que eles contaram com um negócio chamado engarrafamento? Será que
raciocinaram que determinados destinos duram muito tempo para ser percorridos
e, por conseguinte, não se enquadram no espaço temporal estabelecido para que a
integração seja validada? Será que esses seres pensantes e tão preocupados e
ciosos com os seus ganhos refletiram e consideraram que há cidadãos,
trabalhadores e estudantes, que, por exemplo, saem diariamente da Ilha de
Itamaracá, no litoral norte, para ir trabalhar e estudar no Cabo de Santo
Agostinho e/ou em suas adjacências, no litoral sul, deslocamento esse que
consome algumas horas? Acredito piamente que não.
Na semana passada uma das
reclamações que eu mais ouvi no TI de Igaraçu foi que, como se não bastasse a
implantação da “integração temporal de linha”, o sistema de leitura dos cartões
de passagem dizia que o tempo para outra integração “gratuita” havia acabado,
ainda que,segundo os passageiros, não tivesse. Ouvi gente dizendo que, em
alguns casos, não fazia nem quarenta minutos do primeiro embarque e o sistema
já apontava que o tempo de integração terminara. Não é de lascar?! É e muito.
Quanto a este problema – um problemão,
na verdade – sabem o que os controladores do TI propuseram como solução? Orientaram
que o usuário fotografasse a tela da máquina leitora de cartões e mostrassem a
eles que, por sua vez, registrariam numa planilha para que o passageiro tivesse
os créditos repostos sabe-se lá quando, se é que vão ser mesmos. Parece brincadeira
de mau gosto, não é? Mas é a pura verdade. É dessa forma que estão sendo
tratados os usuários, os dependentes do transporte público de passageiros na
Região Metropolitana da capital pernambucana.
Sabem de outra coisa que a
tal da “integração temporal de linha” vai eliminar? A pressão temporal para o
próximo embarque vai acabar com aquela parada para uma conversa, para uma
descontração, para a feitura de um lanche ou de uma refeição mais substanciosa
nos terminais que comercializam alimentos. A pressão do embarque ligeiro – isso
considerando que os ônibus saiam e cheguem pontualmente aos seus destinos –
para não perder a “gratuidade” irá – já fez isso, na realidade – nos deixar
prisioneiros do vai e vem cronometrado dos coletivos que passarão também a
controlar quando devemos ir e voltar. Ou isso ou nos conformemos em ter de
pagar outra passagem se quisermos nos dar o privilégio – privilégio, gente – de
uma distraçãozinha que seja nalgum dos terminais ou seja onde for.
Bom, se a ideia dos
controladores do SEI foi tentar estancar a sangria da perda do público pagante,
pelo que eu tenho visto em vários pontos de embarque e dentro dos ônibus,
aumentou consideravelmente a quantidade de indivíduos que pulam a catraca e/ou
que embarcam pelas portas traseiras.
Mudanças, definitivamente, nem sempre são para melhor. E a “integração temporal de linha” está aí para confirmar isso.
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