Por Sierra
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Fotos: Arquivo do Autor Misto de atividade recreativa e modalidade esportiva, o Cambio mobiliza e põe vários homens e mulheres na ativa na orla de João Pessoa |
No dia 23 de novembro do ano
passado eu, que almoçara no Cantinho Regional e lera um bocadinho na calçada do
Centro Turístico Tambaú, em João Pessoa, voltara para a faixa de areia da praia
e me sentara defronte a uma das quadras existentes no entorno da academia de
musculação ao ar livre que existe ali há muitos anos e que eu costumo
frequentar quando vou passar uns dias na capital paraibana.
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No alongamento antes do início das partidas |
Sentei para retomar minha
leitura – adoro esse luxo de ler defronte para o mar – quando, dali a pouco e
aos poucos, começaram a chegar uns homens e umas mulheres de meia idade uns e
já idosos outros. A uma muito atenciosa e simpática Helena – ela me diria
depois que era professora – eu perguntei do que se tratava aquele encontro; e
ela prontamente me esclareceu que era um grupo de amigos que praticavam uma
modalidade esportiva chamada Cambio, que fora trazida por um gaúcho que era ao
mesmo tempo treinador e técnico deles; ela também me disse que não tardaria
para que ele chegasse.
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Todos em ação dinamizando a recreação |
E eis que chegou o professor
de Educação Física, treinador e técnico Valmor Kniphoff, um gaúchão de Lajeado
de 80 anos de idade que foi uma das melhores lembranças que eu trouxe da viagem
e uma grata satisfação que eu tive na tarde daquele dia.
Com a paciência e a
sapiência próprias de quem tem muita bagagem, muito conhecimento e experiência
no trato com os alunos, professor Valmor foi de uma gentileza tamanha para
comigo; e, de forma bastante clara e didática, me contou como se deu o seu
encontro com o Cambio e me explicou as regras da modalidade.
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Professor Valmor Kniphoff: professor de Educação Física, treinador e técnico, este gaúcho de Lajeado é uma presença radiante no comando de seus jogadores: parabéns, professor Valmor! |
Professor Valmor Kniphoff
me disse que o Cambio é muito popular no Rio Grande do Sul, onde regras
agregaram peculiaridades locais e, depois de uniformizadas, foram implantadas
em todo o estado a partir de 2015. Ele, que deu aulas em escolas públicas e particulares,
contou que a origem do Cambio é espanhola – daí por que é Cambio sem acento
circunflexo na letra A – e chegou ao território gaúcho pela fronteira nordeste,
pela Argentina. Depois que ele se aposentou, começou a coordenar um grupo de
praticantes do esporte durante dez anos.
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Helena me disse que faz de tudo para não faltar aos encontros do Cambio |
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Helena e sua amiga Elaine |
E como ele chegou a João
Pessoa? E como ele implantou o esporte ali? Ele me disse que o clima frio das
terras gaúchas lhe deixava em constante embate com a asma e a bronquite; até
que um dia uma médica lhe recomendou mudança para a praia, de preferência no
Nordeste; e, como ele já conhecia as capitais nordestinas, escolheu João Pessoa
para fixar morada em 2018. E que, frequentando o Clube da Pessoa Idosa, que é
mantido pela Prefeitura Municipal e funciona no bairro Altiplano, teve a ideia
de implantar a modalidade na cidade – atualmente a esposa dele está coordenando
um grupo de praticantes no bairro Manaíra.
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Vamos lá, pessoal!! |
E em que consiste o esporte
Cambio? O Cambio é uma versão do vôlei de quadra com equipes formadas por nove
indivíduos, podendo ser mistas, constituídas por homens e mulheres – se não
tiver dezoito jogadores, o pessoal joga do mesmo jeito. Assim como no vôlei de
quadra – e ele também pode ser praticado em quadra -, há rodízio dos jogadores,
só que de modo constante: diferentemente do que ocorre no vôlei, em que o sacador e os demais se mantêm na mesma
posição caso a equipe pontue continuamente, no Cambio há mudança de posição o
tempo todo, tornando a atividade bem dinâmica, mexendo com todo mundo. No
Cambio não há saque nem rebate da bola e muito menos cortadas; em vez disso, há
o arremessador ou lançador, que é orientado a não jogar a bola na direção do
jogador que fica no centro da quadra, porque ele é que é o encarregado de
devolver a bola para o lado adversário; quem agarra a bola que foi lançada pelo
lado oponente a repassa para o jogador central
que, ao devolvê-la para o adversário, muda de posição, gerando a movimentação
de todo o grupo; e quem está posicionado
na ponta direita, próximo à rede, vem para o centro, passando a ser o novo
arremessador ou a nova arremessadora.
À primeira vista o Cambio
pode parecer algo que seja fácil de praticar; e que seja difícil que ocorra a
queda da bola no chão. Mas não é bem assim. Depois que eu ouvi todos os
esclarecimentos do professor Valmor Kniphoff, eu me detive em observar a
prática em si do Cambio. Considerando que os praticantes têm de ter, no mínimo,
50 anos de idade, que a modalidade é praticada na areia fofa da praia e que uns
e outros dos atletas amadores têm certas limitações físicas decorrentes da idade
e de enfermidades, chega-se à conclusão que fácil mesmo essa prática esportiva
não é para os seus adeptos. E observar aqueles homens e aquelas mulheres –
vários deles já sessentões – naquele entusiasmo e empenho para praticar uma
atividade física ao mesmo tempo em que se mantêm em animado convívio e
integração social foi, para mim, um grande estímulo e uma enorme lição de vida.
Perguntei ao professor
Valmor Kniphoff como é que ele avaliava
o impacto do esporte em seu grupo formado por pessoas de meia idade e
por idosos. E ele me disse o seguinte: “Ah, além da da atividade recreativa, o
impacto na saúde deles é muito grande. Eu já ouvi muitos depoimentos de pessoas
que vinham com problemas de depressão e de solidão, de pressão alta e que
tiveram melhoria na vida delas depois que começaram a praticar o Cambio. E isso
é motivo de grande satisfação para mim, que faço isso de modo voluntário”. Ele
me disse também que nos seus planos para este ano está fazer um grande evento
de Cambio em João Pessoa, trazendo equipes do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina para disputar um torneio interestadual. Que coisa boa! Enquanto isso,
e contando com o apoio do Governo da Paraíba, ele estava à frente da
coordenação do 1º Campeonato Paraibano de Cambio.
Marco Tulio Cícero, que nasceu em Arpino, próximo à Roma, em 106 a. C., disse assim no seu Saber envelhecer: “Tempo perdido jamais retorna e ninguém conhece o futuro. Contentemo-nos com o tempo que nos é dado a viver, seja qual for!”.
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