Por Sierra
Anteontem, em âmbito nacional, as redes sociais mais uma vez deram o tom e a dimensão do peso que elas passaram a ter em nossa vida cotidiana negativamente falando: por conta de boatos, através delas espalhados, de que ocorreriam ataques a estudantes em escolas, creches e universidades, vários alunos deixaram de ir assistir às aulas, porque, dado o caso assustador e covarde ocorrido numa creche em Blumenau (SC), onde um sujeito invadiu uma creche e matou quatro crianças a golpes de machadinha, o medo tomou conta não apenas de crianças e adolescentes, mas também dos seus pais, que, receosos de que os boatos não fossem só boatos e sim ameaças reais, preferiram deixar os filhos em casa e não mandá-los para as escolas, creches e universidades.
Um amigo, que trabalha numa escola que atende o público infantil em Abreu e Lima (PE), me contou que muitos alunos faltaram na quinta-feira; outro, cujos filhos estudam numa escola em Paulista, cidade vizinha de Abreu e Lima, me disse que de 250 alunos, apenas 80 compareceram naquele dia. Isso significa que os propagadores das ameaças via redes sociais conseguiram o que queriam, que era criar um clima de pânico e deixar parte das pessoas apavoradas e temerosas. E isso significa também dizer, a meu ver, que já passou da hora de a sociedade e o Estado se mobilizarem no sentido de regular as plataformas das redes sociais objetivando com isso que elas ponham em ação dispositivos e ferramentas que possam de alguma forma barrar a propagação de discursos de ódio e de promoção e incentivo de práticas criminosas, como as de ataques que, segundo os boatos, ocorreriam na última quinta-feira.
Note-se que não são poucos os que se opõem à regulação das plataformas das redes sociais porque, segundo esse coro oposicionista, isso significa um ataque à liberdade de expressão. Ora essa, então quer dizer que liberdade de expressão significa que podemos dizer e propagarmos o que bem entendermos? Por acaso liberdade de expressão confere salvo-conduto e isenção a quem quer que seja para a disseminação e/ou incentivo de práticas criminosas?
É claro que não são apenas as redes sociais que devem ser tomadas como espaços onde ocorre um verdadeiro "liberou geral"; a própria internet - e os milhões e milhões de sites que ela abriga - é um campo, um vastíssimo campo com certos trechos minados. Existe, inclusive, uma chamada deep web que é uma versão da internet que abriga o que de pior uma mente maligna pode conceber para difundir atos criminosos através da rede mundial de computadores. Ocorre que as rede sociais têm se revelado ambientes mais propícios para a ação de delinquentes de todo tipo. E enfrentar isso é um desafio urgente deste nosso tempo.
Não tratemos de encarar os males provocados pelas redes sociais como ocorrências que por si mesmas se consumirão e deixarão de existir qualquer dia desses. Não, o problema é grave, como deixaram ver as operações de Polícias Civis e Militares que agiram para aprender adultos e apreender adolescentes, em vários estados do país, responsáveis por perfis em redes sociais que estavam propagando e/ou incentivando a prática de ações criminosas contra escolas, creches e universidades. É fato que mentes perversas conseguem manipular o pensamento de indivíduos desajustados que só estão à espera de um incentivo para sair por aí tocando o terror.
Não tratemos as redes sociais apenas pelo que elas têm de bom, porque, se agirmos assim, baixaremos a guarda e daremos espaço para que criminosos não somente difundam ataques verbais a minorias como arquitetem e consigam pôr em prática massacres como o que ocorreu em Santa Catarina. Toda a vigilância deve ser necessária para barrarmos a escalada de violência motivada pelas redes sociais. A bem da verdade, ou a sociedade e o Estado tratam de se empenhar para que ocorra a regulação das redes sociais para que elas percam o status de terra de ninguém ou teremos de amargar um futuro imediato em que elas serão tão nocivas para todos nós quanto as drogas ilícitas que alimentam o mundo do crime e destroem famílias inteiras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário