Por Sierra
Frequentemente nós nos
deparamos com pessoas que parecem não ser realmente pessoas de carne e osso,
parecem não ser gente de verdade, gente que tem pulsação, gente que respira,
gente que tem sentimentos, gente que pensa. São pessoas que agem como se fossem
autômatos; que se movimentam e que executam tarefas como se estivessem sendo
comandadas por um controle remoto e possuíssem um botão de liga e desliga,
porque, no mais das vezes, elas não esboçam um mínimo que seja de algo que
indique ser uma ação motivada por uma vontade própria.
Você e eu certamente
conhecemos pessoas que se portam na vida como seres submissos, inteiramente
submissos, que jamais dizem “não”, como animais esperando ser adestrados. E pessoas
que estão na vida assim costumam e/ou tendem a pensar que elas não apenas não
têm vontade própria como também não possuem gostos pessoais, não têm
discernimento para avaliar nada que diga respeito a elas mesmas e o que talvez
seja o pior de tudo: não acreditam que são detentoras de luz própria.
Por que tantas pessoas vivem
acreditando que só o outro possui luz própria? Por que tantos indivíduos seguem
os rumos de suas vidas como se fossem indiferentes a si mesmos? Por que tanta
gente age como que se recusando a admitir que possui capacidades que ela diz só
enxergar noutra pessoa?
Eu já tive o meu tempo de
apagamento. Eu já atravessei um longo túnel interior que me fazia pensar que
não era só a crença na luz própria que me faltava, bem como me faltavam uma
disposição, uma coragem, uma determinação e um muito querer estar na vida; um
muito querer estar na vida agarrado firmemente a ela com todas as minhas
forças, como se nada mais fosse preciso e necessário.
Não, não eu não estou
falando aqui de quadro de depressão, porque essa seara, esse deserto interior,
eu nunca atravessei. Eu estou dizendo aqui do acreditar nas próprias
potencialidades; do olhar para si mesmo vasculhando qualidades; do querer
apostar que isso que eu penso, que isso que sei fazer, que isso que eu sou, que
isso que eu quero para a minha vida, que esse sentimento que me toma é válido e
verdadeiro; que essa minha tomada de posição frente ao existir é coerente e
certa; e que eu não preciso somente fazer uso e/ou recorrer à luz alheia para
iluminar os caminhos por onde eu quero seguir e me enxergar inteiro, porque,
fundamentalmente, reside em tudo isso a determinação para que todos e cada um
de nós possamos nos perceber, dar um clique e acender a nossa própria luz.
Uma das expressões mais
utilizadas nos últimos anos para descrever relacionamentos abusivos – e relacionamentos,
aqui, não se limitam aos chamados afetivos que envolvem casais – é denominá-los
de “relacionamentos tóxicos”. E pessoas abusivas e tóxicas costumam fazer de
tudo para que nunca e em momento algum nós consigamos acender a nossa própria
luz, porque, para tais indivíduos, nós não fazemos nada que preste; nós não sabemos
distinguir o que é bom e o que é ruim ou o que é certo e o que é errado; nós não
atinamos para aproveitar oportunidades; nós não somos bonitos nem inteligentes;
nós não compreendemos as coisas totalmente; nós não conseguimos chegar a nenhum
lugar sozinhos; nós não nos comportamos adequadamente; etc., etc. Ou seja, para
essas pessoas, nós não temos brilho algum que dirá uma luz própria.
Alguém já disse que para
tudo na vida deveria existir uma cartilha ensinando como agir e proceder,
descrevendo o passo a passo para agirmos diante disso e daquilo, como se o
viver fosse como aquele jogo de tabuleiro no qual é dito o que você deve fazer
caso caia na casa número tal. Quando eu ouço e/ou leio coisas como essas de “cartilhas”
e de “manuais” para o enfrentamento da vida, algo tão explorado pelos
denominados “livros de autoajuda”, eu me pergunto: e as experiências que nós
vivenciamos não valem? E a observação do que está ao nosso redor não tem serventia?
E os nossos erros e acertos não nos proporcionam um aprendizado, eles não nos
dão uma lição?
Há quem se ocupe em nos
fazer desacreditar de nós – até pais e mães maldosos fazem isso com seus filhos
– dizendo que não somos capazes nem mesmo de entrar num relacionamento afetivo,
porque somos muito sem graça e ninguém há de nos querer. Essas pessoas,
verdadeiras criaturas das sombras, agem assim porque acreditam piamente que é
só agindo dessa maneira, apagando e/ou tentando apagar a luz dos outros, que elas
conseguirão de alguma forma se manter iluminadas.
Quando nós escolhemos viver presos à ideia de que não temos a nossa própria luz, nós sofremos severas consequências, porque, ao não reconhecermos os nossos méritos, potencialidades e qualidades e só admitindo os nossos pontos fracos e limitações, damos margem para que aqueles que vivem furtando a luz alheia na tentativa de, de algum modo, se acender, se esforcem mais e mais para nos manter apagados.
Façamos mais do que os belos vaga-lumes que atravessam a escuridão das noites iluminando as rotas de suas existências: mantenhamos a nossa própria luz acesa o tempo todo.
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