1 de abril de 2023

Sobre acender a própria luz

 Por Sierra


Imagem: Internet
Quando nós escolhemos viver presos à ideia de que não temos a nossa própria luz, nós sofremos severas consequências, porque, ao não reconhecermos os nossos méritos, potencialidades e qualidades e só admitindo os nossos pontos fracos e limitações, damos margem para que aqueles que vivem furtando a luz alheia na tentativa de, de algum modo, se acender, se esforcem mais e mais para nos manter apagados. Façamos mais do que os belos vaga-lumes que atravessam a escuridão das noites iluminando as rotas de suas existências: mantenhamos a nossa própria luz acesa o tempo todo.


Frequentemente nós nos deparamos com pessoas que parecem não ser realmente pessoas de carne e osso, parecem não ser gente de verdade, gente que tem pulsação, gente que respira, gente que tem sentimentos, gente que pensa. São pessoas que agem como se fossem autômatos; que se movimentam e que executam tarefas como se estivessem sendo comandadas por um controle remoto e possuíssem um botão de liga e desliga, porque, no mais das vezes, elas não esboçam um mínimo que seja de algo que indique ser uma ação motivada por uma vontade própria.

Você e eu certamente conhecemos pessoas que se portam na vida como seres submissos, inteiramente submissos, que jamais dizem “não”, como animais esperando ser adestrados. E pessoas que estão na vida assim costumam e/ou tendem a pensar que elas não apenas não têm vontade própria como também não possuem gostos pessoais, não têm discernimento para avaliar nada que diga respeito a elas mesmas e o que talvez seja o pior de tudo: não acreditam que são detentoras de luz própria.

Por que tantas pessoas vivem acreditando que só o outro possui luz própria? Por que tantos indivíduos seguem os rumos de suas vidas como se fossem indiferentes a si mesmos? Por que tanta gente age como que se recusando a admitir que possui capacidades que ela diz só enxergar noutra pessoa?

Eu já tive o meu tempo de apagamento. Eu já atravessei um longo túnel interior que me fazia pensar que não era só a crença na luz própria que me faltava, bem como me faltavam uma disposição, uma coragem, uma determinação e um muito querer estar na vida; um muito querer estar na vida agarrado firmemente a ela com todas as minhas forças, como se nada mais fosse preciso e necessário.

Não, não eu não estou falando aqui de quadro de depressão, porque essa seara, esse deserto interior, eu nunca atravessei. Eu estou dizendo aqui do acreditar nas próprias potencialidades; do olhar para si mesmo vasculhando qualidades; do querer apostar que isso que eu penso, que isso que sei fazer, que isso que eu sou, que isso que eu quero para a minha vida, que esse sentimento que me toma é válido e verdadeiro; que essa minha tomada de posição frente ao existir é coerente e certa; e que eu não preciso somente fazer uso e/ou recorrer à luz alheia para iluminar os caminhos por onde eu quero seguir e me enxergar inteiro, porque, fundamentalmente, reside em tudo isso a determinação para que todos e cada um de nós possamos nos perceber, dar um clique e acender a nossa própria luz.

Uma das expressões mais utilizadas nos últimos anos para descrever relacionamentos abusivos – e relacionamentos, aqui, não se limitam aos chamados afetivos que envolvem casais – é denominá-los de “relacionamentos tóxicos”. E pessoas abusivas e tóxicas costumam fazer de tudo para que nunca e em momento algum nós consigamos acender a nossa própria luz, porque, para tais indivíduos, nós não fazemos nada que preste; nós não sabemos distinguir o que é bom e o que é ruim ou o que é certo e o que é errado; nós não atinamos para aproveitar oportunidades; nós não somos bonitos nem inteligentes; nós não compreendemos as coisas totalmente; nós não conseguimos chegar a nenhum lugar sozinhos; nós não nos comportamos adequadamente; etc., etc. Ou seja, para essas pessoas, nós não temos brilho algum que dirá uma luz própria.

Alguém já disse que para tudo na vida deveria existir uma cartilha ensinando como agir e proceder, descrevendo o passo a passo para agirmos diante disso e daquilo, como se o viver fosse como aquele jogo de tabuleiro no qual é dito o que você deve fazer caso caia na casa número tal. Quando eu ouço e/ou leio coisas como essas de “cartilhas” e de “manuais” para o enfrentamento da vida, algo tão explorado pelos denominados “livros de autoajuda”, eu me pergunto: e as experiências que nós vivenciamos não valem? E a observação do que está ao nosso redor não tem serventia? E os nossos erros e acertos não nos proporcionam um aprendizado, eles não nos dão uma lição?

Há quem se ocupe em nos fazer desacreditar de nós – até pais e mães maldosos fazem isso com seus filhos – dizendo que não somos capazes nem mesmo de entrar num relacionamento afetivo, porque somos muito sem graça e ninguém há de nos querer. Essas pessoas, verdadeiras criaturas das sombras, agem assim porque acreditam piamente que é só agindo dessa maneira, apagando e/ou tentando apagar a luz dos outros, que elas conseguirão de alguma forma se manter iluminadas.

Quando nós escolhemos viver presos à ideia de que não temos a nossa própria luz, nós sofremos severas consequências, porque, ao não reconhecermos os nossos méritos, potencialidades e qualidades e só admitindo os nossos pontos fracos e limitações, damos margem para que aqueles que vivem furtando a luz alheia na tentativa de, de algum modo, se acender, se esforcem mais e mais para nos manter apagados.

Façamos mais do que os belos vaga-lumes que atravessam a escuridão das noites iluminando as rotas de suas existências: mantenhamos a nossa própria luz acesa o tempo todo.

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