Por Sierra
Pense,
fale compre, beba.
Leia,
vote, não se esqueça.
Use,
seja, ouça, diga.
Tenha, more, gaste, viva.
Admirável
chip novo. Pitty
Eu
não tenho medo de pensar por mim mesmo. A ciência, digo, os
cientistas costumam falar das instâncias do cérebro e do que entendemos como
conhecimento como algo que vai se processando e evoluindo em diferentes etapas
de desenvolvimento do nosso corpo. Eles também são pródigos em afirmar que, quanto
mais estímulos nós tivermos na infância, maior será a capacidade do cérebro de
ampliar esse desenvolvimento, nos dotando das mais diversas competências.
Fiz essa breve introdução
com seu quê de “científica” só para dar relevo ao que eu quero realmente tratar
hoje aqui, que é a capacidade que cada um de nós tem de pensar por si mesmo.
Como pensar por si mesmo
numa realidade que prima por querer nos uniformizar, nos padronizar e nos
transformar não em seres pensantes, mas em bois que seguem cegamente a manada
ou para usarmos um termo mais apropriado para este nosso tempo e este nosso
cotidiano cada vez mais conectado e tecnológico, em robôs de linha de montagem?
Em tempos de propagação de
medo e de ameaça de que a chamada “inteligência artificial” vai acabar
dominando as nossas vidas não só na execução das tarefas mais comezinhas como
também em ações complexas, nós ainda podemos falar em capacidade individual de
pensamento? Por que tantas pessoas preferem seguir “cartilhas” e “mandamentos”
a praticar o livre pensar e a orientar elas próprias as suas vidas?
Estamos vivendo o que a mim
me parece ser um grande paradoxo: nós nos mantivemos empenhados tenazmente em
aprimorar nossos conhecimentos com o fito de alcançarmos e criarmos a mais
avançada das mais avançadas tecnologias e agora que atingimos um alto estágio,
ficamos com medo disso. O criador está receoso diante da criatura que ele
criou, como demonstram os debates acerca da aplicação da “inteligência
artificial”.
Estaremos caminhando para o
tempo em que, dotados de chips subcutâneos, seremos comandados como máquinas,
como se fôssemos desprovidos de sentimentos, desejos, ambições e tudo
mais? Será que tempo virá em que nós não
seremos nada mais nada menos do que autômatos guiados remotamente por máquinas
com vida própria e/ou seres humanos perversos que estarão, assim, no controle
de tudo? Eu tenho por mim que estamos assistindo ao desenrolar de uma realidade
tecnológica dominadora da qual não podemos escapar completamente, a não ser que
resolvamos abrir mão da vida nas cidades e nos campos e regressemos às
florestas e às savanas involuindo paulatinamente.
Não quero me entregar a um
exercício de futurologia, afinal de contas, eu sou um pesquisador do passado.
Eu quero abordar a questão da autonomia do pensar em tempos do que eu chamo de
“evangelização” e/ou “doutrinação tecnológica”, por meio da qual milhões de
indivíduos são como que adestrados para se manterem prisioneiros de uma
tecnologia – como o telefone celular – sem se aterem que a vida é algo bem mais
complexo do que o ficar imerso em um universo onde imperam o fútil e o
superficial e o viver em si é quase que reduzido à navegação nas denominadas
redes sociais.
O telefone celular não é um
mal em si; muito pelo contrário; a questão é o uso que fazemos dele. A rede
mundial de computadores e os aplicativos nos proporcionam acesso a uma vastidão
de conhecimentos e de soluções para a nossa vida prática: um grande exemplo
disso são as transações bancárias feitas pelo telefone celular que, a bem da
verdade, foi transformado num aparelho multiuso: fotografa, toca músicas, envia
mensagens de texto e de áudio, exibe filmes e faz até ligações.
Alguém pode sair em defesa
dessas redes sociais dizendo que, na verdade, a sociedade e/ou as sociedades
sempre foram compartimentadas, sempre foram divididas em segmentos não só
economicamente falando, mas também em termos de doutrinação ideológica,
política e religiosa. Eu concordo com isso. Como igualmente eu concordo que,
como autômatos, vivem milhões, bilhões de pessoas ao redor do mundo desde
tempos idos, quase que escravas que elas são dos seus trabalhos e/ou de seus meios
de sobrevivência, não tendo quase tempo para fazer algo além do ir para o local
de seus afazeres e voltar para casa.
Eu já repudiei completamente
essas redes sociais e agora eu faço parte da massa que está inserida nelas.
Contudo, pelo menos até agora, eu tenho gozado, eu venho gozando de uma vida
própria: eu leio livros; eu escrevo; eu frequento museus e centros culturais;
eu procuro pensar por mim mesmo; eu, enfim, não me vejo preso ao tal negócio; e
nem me sinto refém dele. E eu só consegui isso depois de estabelecer limites
para mim mesmo, dizendo até onde eu poderia ir e como eu deveria transitar por
ali, algo que, verdade seja dita, foi sendo ajustado até eu encontrar um ponto
de equilíbrio entendendo que eu não posso jamais ficar alheio a essa realidade
e, ao mesmo tempo, eu posso me policiar para não ser tragado inteiramente por
ela.
Sinceramente eu não tenho medo
– pelo menos até agora eu não tive - da chamada “inteligência artificial”. Do
que eu tenho receio – receio e não medo – é de ver a minha vida perder a sua
naturalidade e passar a ser artificial.
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