16 de março de 2024

A verdade é verde-oliva

 Por Sierra


Imagem: Internet
Como era de se prever, Jair Bolsonaro e os seus comparsas golpistas estão desmerecendo, desqualificando e fazendo de conta que não se importaram com os depoimentos dos generais Carlos Baptista Junior e Freire Gomes. Eles  estão negando o poder devastador das declarações dos generais porque é do jogo defensivo negar. Mas os elementos comprobatórios da trama golpista estão todos de posse da Polícia Federal e do STF: vídeos e relatos de reuniões, minuta do golpe, depoimentos confirmatórios...


Durante os longos e infernais quatro anos que durou o desgoverno de Jair Bolsonaro, os que tinham olhos para ver e ouvidos para ouvir acompanharam o desenrolar de um espetáculo grotesco e macabro protagonizado pelo então presidente da República e por seus cúmplices e comparsas. Os quadros encenados eram um misto de selvageria, brutalidade, absurdo e non sense em meio à ocorrência de uma pandemia  - a da covid-19 - altamente letal.

Encarnando a figura de um pretenso "salvador da pátria", Jair Bolsonaro montou um esquema eficiente de convencimento para a sua plateia que era integrado por várias milícias. Quais sejam? Uma milícia digital comandada por um denominado Gabinete do Ódio, que se ocupava  em destruir reputações daqueles que eles tinham como inimigos e em espalhar, diariamente, pelas redes sociais, a maior quantidade possível de notícias sabidamente falsas, porque qualquer mínima checagem do que era divulgado constatava a inveracidade dos "fatos". Uma milícia governamental amparada por um amplo aparelhamento do Estado com uma multidão de indivíduos ocupando muitos cargos da administração pública que não se furtavam a colaborar com os acertos necessários para liquidar toda e qualquer possibilidade de Jair Bolsonaro perder o pleito seguinte e, assim, se manter no poder por mais quatro anos ou até mais, porque era superevidente que esses espécimes não queriam de forma alguma ser apeados do poder. Uma milícia dita cristã que contava com alguns padres malignos, mas que era formada, principalmente, por pastores evangélicos mal-intencionados e pilantras que posavam de líderes espirituais cuidando não de seus rebanhos e sim dos próprios próprios bolsos e interesses particulares, enriquecendo e vivendo no bem bom à custa de dizimistas e de negócios escusos, como a "oferta" de apoio a uns e outros políticos; apoio esse que significava  manipular e fazer a cabeça dos fiéis recorrendo a toda sorte de mentiras e falsidades para que eles votassem em determinados candidatos e ao mesmo tempo tratassem de demonizar outros. Uma milícia empresarial constituída basicamente por proprietários de grandes estabelecimentos comerciais e por agropecuários interessados em políticas governamentais trabalhistas que beneficiam os patrões em detrimento da situação dos empregados e, também, sequiosos de instituição de leis ambientais frouxas e altamente permissivas de desmatamentos e de exploração de terras de tudo que é jeito, leis essas do tipo "deixar a boiada passar", que não têm nem preocupação e nem cuidado para com a preservação do meio ambiente; empresários esses que se puseram a financiar atos antidemocráticos.. E por uma milícia militar, tida como garantidora e legitimadora de tudo o quanto Jair Bolsonaro desejasse fazer e acontecer; e que era constituída por membros de todas as denominadas Forças de Segurança: municipais, estaduais e federais sob o comando, digamos assim, das Forças Armadas, em geral, e do Exército, em particular.

O aparato miliciano a dar apoio ao desgoverno de Jair Bolsonaro era enorme e bem capilarizado. E tal aparato deixava o tempo todo ver que era e estava disposto a tudo, a tudo mesmo, até a matar, como vimos na série de ameaças a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e ao então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, nas agressões físicas a jornalistas, na implantação de uma bomba num aeroporto e no assassinato de um apoiador do candidato do Partido dos Trabalhadores no Paraná.

Com o fito claro de angariar o maior apoio possível de membros das Forças Armadas, Jair Bolsonaro instalou milhares de militares em ministérios e em dezenas de órgãos do desgoverno. E fez mais, muito mais pelos militares de alta patente: aumentou os salários deles;  e destinou muitas verbas para os quartéis. O desgoverno militarizado era a face fardada de um sujeito oriundo da caserna que sempre exaltou torturadores e que é saudoso da Ditadura Militar.

Pois bem. Absolutamente crente de que contava com um amplo apoio de todos esses quadros de milicianos, ao mesmo tempo em que tratava de desqualificar por completo os adversários, dizendo que eles eram adeptos do comunismo e inimigos ferrenhos da família, da religião, da moral e dos bons costumes e da pátria, Jair Bolsonaro apostava cegamente que ganharia - e com folga - as eleições gerais de 2022. Só que algo correu fora do script redigido por ele e por seus comparsas: Luiz Inácio Lula da Silva derrotou o danado do Jair Bolsonaro. E o que se viu a partir dessa derrota eleitoral foi o recrudescimento das manifestações antidemocráticas dos milicianos ultradireitistas bolsonarianos, que não se conformavam com o fato de terem sido derrotados; e que, por conta disso, acamparam defronte a quartéis clamando  - alguns até ajoelhados dando uma demonstração de bestialidade, teatralidade e alucinação - para que o Exército não reconhecesse o resultado das urnas eletrônicas - urnas essas que eles diziam e dizem ser uma grande fraude - e decretasse uma tomada militar do poder republicano, passando com tanques por cima ados fundamentos da democracia; e, ao serem ignorados pelo comando militar, partiram para protagonizar o inesquecível e deplorável  acontecimento do 8 de janeiro de 2023, quando, formando uma numerosa horda, milicianos apoiadores de Jair Bolsonaro se dirigiram até Brasília e depredaram e saquearam os prédios da Praça dos Três Poderes deixando outra vez evidente que selvageria e ações criminosas são marcas características e indeléveis deles.

É preciso que se diga que, até que se chegasse aos bárbaros e criminosos acontecimentos do 8 de janeiro, quando Luiz Inácio Lula da Silva já havia sido empossado como o novo presidente da República brasileira, Jair Bolsonaro juntou-se  a uma parte de suas milícias antidemocráticas e tramou 24 horas por dia como não reconhecer o resultado da eleição presidencial de 2022 e decretar um golpe de Estado neste país. E como se soube de tudo isso? Investigações determinadas pelo STF e conduzidas pela Polícia Federal resultaram na reunião de vários elementos comprobatórios da trama golpista e na prisão de comparsas e cúmplices de Jair Bolsonaro, o que levou à coleta de depoimentos esclarecedores de grande parte do enredo que redundaria em mais um período de aprisionamento e aviltamento da democracia, caso tivesse tido êxito.

Intimados a colaborarem com as investigações que evidenciaram ainda mais periculosidade de Jair Bolsonaro e o seu desapreço pelos ideais democráticos, militares de alta patente das Forças Armadas, entre eles o general Freire Gomes, que comandou o Exército durante parte do desgoverno do dito-cujo, fizeram declarações devastadoras que puseram o ex-presidente definitivamente na cena do crime ou dos crimes. Coube ao general Freire Gomes o depoimento considerado até agora o mais expressivo e contundente entre todos os que foram ouvidos pela Polícia Federal; ele foi um dos que tiveram coragem de falar, porque uns e outros covardemente puseram o rabinho entre as pernas e mantiveram um silêncio cúmplice com o infrator.

Ontem, em mais uma demonstração do grande, exemplar e corajoso papel que vem arduamente desempenhando em defesa da democracia, o ministro Alexandre de Moraes tornou públicos os depoimentos dos militares, no que foi um dia de lavação da alma para todos aqueles que, como eu, não veem a hora de Jair Bolsonaro ir parar na cadeia, depois que forem seguidos todos os ritos legais para isso, a fim de que não se repitam as atrocidades que fizeram com Luiz Inácio Lula da Silva que, entre outros absurdos, foi conduzido coercitivamente para prestar um depoimento a mando do parcial juiz Sergio Moro que, tempos depois, seria completamente desmascarado; condução coercitiva essa desnecessária e montada para que produzisse um espetáculo midiático que teria a Rede Globo como principal exibidora, essa mesma Rede Globo que os sequazes, cúmplices e comparsas de Jair Bolsonaro passaram raivosamente a atacar, a desqualificar e a chamar de "Globo Lixo" nas voltas que o mundo deu.

Como eu disse, o depoimento do general Freire Gomes foi devastador para o golpista Jair Bolsonaro. Foi devastador e ao mesmo tempo não deixou de ser algo irônico que tenha vindo logo do Exército, a força a qual Jair Bolsonaro o tempo todo chamava de "meu Exército" e que ele tomava como grande fiadora do seu autoritário e infame projeto de poder. O general Freire Gomes de uma só tacada livrou este país de mais uma ditadura e ajudou a limpar a imagem do Exército perante a parcela da sociedade que jamais sequer simpatizou com o pensamento e os propósitos do ex-presidente; imagem essa de um Exército que Jair Bolsonaro passou quatro anos sujando e vilipendiando, colocando-o no olho do furacão do seu projeto de poder.

Como era de se prever, Jair Bolsonaro e os seus comparsas golpistas estão desmerecendo, desqualificando e fazendo de conta que não se importaram com os depoimentos dos generais Carlos Baptista Junior e Freire Gomes. Eles  estão negando o poder devastador das declarações dos generais porque é do jogo defensivo negar. Mas os elementos comprobatórios da trama golpista estão todos de posse da Polícia Federal e do STF: vídeos e relatos de reuniões, minuta do golpe, depoimentos confirmatórios...

Um resumo da fracassada opereta golpista: Jair Bolsonaro e alguns dos seus comparsas estão lascados e deverão ser presos. E, ao menos por ora, a verdade é verde-oliva.

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