Por Sierra
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Fotos: Arquivo do Autor Depois de mais de uma década de espera, eis que finalmente o terminal de ônibus de Igaraçu foi entregue à população |
Só quem diariamente faz uso do sistema de transporte público de passageiros na Região Metropolitana do Recife realmente sabe dos perrengues por que passa, porque não é nada fácil ter de encarar longas distâncias em ônibus que, quase sempre, estão lotados ou superlotados; linhas cujos intervalos entre as viagens são enormes; atropelos para embarque e desembarque, principalmente nos horários de pico; medo de violência praticada dentro dos coletivos - assaltos, importunação sexual, etc. -; o desconforto de ônibus sem refrigeração; e terminais de ônibus que pecam, principalmente, pela falta de comodidade.
O tema terminal de ônibus por si mesmo dá pano para muitas mangas, porque são nesses espaços, pelos quais circulam milhares de pessoas num vai e vem e no maior vuco-vuco todos os dias, que nós transitamos a fim de embarcar e desembarcar rumo aos nossos destinos e compromissos; e, além disso, também vivenciamos nesses espaços de trânsito, nesses espaços de passagens, idas aos sanitários e lanchonetes e fazemos saques de dinheiro e recarregamento do cartões de passagens. Ou seja, os terminais rodoviários acabam figurando como cenários e ambientes onde ocorrem muitas interações e sociabilidades, além dessas que eu mencionei aqui, de modo que, quanto mais bem aparelhados eles forem e quanto mais comodidades e serviço eles puderem disponibilizar para os que circulam por eles com suas vidas bastante corridas, melhor.
Durante muitos anos os usuários do terminal de ônibus de Igaraçu, ao qual chegam e de onde saem coletivos que circulam por várias cidades da Região Metropolitana da capital pernambucana - Ilha de Itamaracá, Itapiçuma, Araçoiaba, Abreu e Lima, Paulista, Olinda e o próprio Recife -, convivemos com uma estrutura que apresentava diversos problemas e deficiências, o que causava não somente desconforto como também inconformidade nos seus usuários, que não compreendiam o porquê de aquele terminal ser mantido em estado tão lamentável.
E a insatisfação com tal estado de coisas só piorou quando se anunciou uma obra de ampliação e reestruturação do espaço, porque as obras foram iniciadas, paralisadas e por fim abandonadas, causando revolta em parte dos seus usuários que, juntando tudo num balaio só, mais de uma vez fecharam o terminal protestando contra os atrasos de saídas e chegadas de ônibus, o estado precário do terminal e as obras que se alternavam em paralisações e retomadas e se arrastavam por anos, como se fossem algo interminável.
Quando Raquel Lyra assumiu o governo do estado, o panorama daquele arremedo de terminal de ônibus, que era o de Igaraçu, começou a mudar, porque as obras foram retomadas; e quem via os homens trabalhando ali todos os dias acreditava que dessa vez era realmente para valer; o zunzunzum geral dizia que aquele cenário, enfim, mudaria e para melhor.
O tempo foi passando e a transformação na área foi acontecendo a olhos vistos: novas faixas de rolamento; outras dependências sendo erguidas; banheiros ganhando forma. As mudanças iam ocorrendo, o cenário ia mudando e nós, usuários do terminal, não víamos a hora de tudo estar pronto para passarmos a frequentar e fazer uso de um terminal de ônibus de verdade e digno de ser chamado como tal. E vale destacar que, durante parte do incremento das obras, nós, usuários do terminal, tivemos de passar uns dias tendo de embarcar e desembarcar dos coletivos do lado de fora do espaço em construção; e, nos últimos meses, ficamos embarcando e desembarcando numa área nova, mas estreita, e que não é totalmente coberta.
Todos os dias que eu passava por ali, indo e voltando do trabalho, eu lançava os meus olhos curiosos sobre o cenário e me certificava que estava cada vez mais próximo o dia de sua finalização e, por conseguinte, a sua inauguração, porque conforto, comodidade e dignidade é o que todo mundo espera de todo e qualquer serviço, seja ele público ou não.
Na manhã de ontem, depois de tantos anos de espera, eis que o novo terminal de ônibus foi oficialmente inaugurado, mas só começou a operar integralmente hoje. Eita, que coisa boa! Circular por ambientes bem construídos e cuidados é realmente o que todos nós queremos, não só porque pagamos pesados impostos e sim porque todos nós precisamos viver com dignidade e sermos respeitados em todas as instâncias da vida, o que passa, evidentemente, pelo uso dos serviços públicos.
Foram mais de dez anos de espera. As obras que se arrastaram por todo esse período simbolizavam o descaso que certos políticos mantêm para com os percalços, necessidades e dificuldades que a maioria da população enfrenta para tocar em frente as coisas de sua vida prática e cotidiana. Imaginem vocês que o terminal de ônibus de Igaraçu era para ter sido concluído dentro do pacote de obras anunciado para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. É um espanto, não é?
Felizmente, a governadora Raquel Lyra teve sensibilidade e empenho para concluir uma obra que parecia não ter fim e que era muito aguardada pela população, pelos milhares de cidadãos que diariamente passam por aquele terminal para ir e voltar de seus compromissos.
Aqui e ali o olhar atento encontra pequenas falhas e/ou malfeitorias na obra - eu, por exemplo, flagrei pedaços quebrados do beiral da calçadinha da faixa de embarque da linha 5; e vi, também, que, de última hora, puseram cimento numa parte que liga a área maior à menor. Contudo, no balanço geral, digamos assim, nós, usuários, nós que somos aqueles que realmente dependemos do sistema de transporte público de passageiros estamos/ficamos satisfeitos com o novo terminal. Agora é esperar que os serviços prestados pelo consórcio das empresas que controlam as linhas de ônibus que operam ali, melhorem, porque, pouco ou nada adianta manter um terminal novinho em folha, se nós continuarmos a conviver com os mesmíssimos e velhos problemas de ônibus superlotados e atrasos para a saída e chegada de viagens.
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