13 de setembro de 2025

Feiras livres (19)

 Por Sierra


Fotos: Arquivo do Autor
As feiras livres são acontecimentos socioeconômicos com os quais eu mantenho uma relação não só de interesse, como campos de estudos, mas também por causa de uma memória afetiva muito forte, por causa das minhas idas à feira livre da minha cidade natal e pelo fato de ter sido nela que eu consegui o meu primeiro emprego, ainda adolescente


Nossa Senhora da Saúde (Piranhas - AL). Quem diz que não gosta de vivenciar o vuco-vuco e o bulício de uma feira livre é porque, eu acredito, a pessoa não se deixa envolver pela atmosfera toda desse acontecimento social que costuma ser um dos pontos marcantes do dia a dia de muitos lugares.

Durante as minhas viagens eu, sempre que posso, visito feiras livres com a curiosidade bem elevada, buscando encontrar nelas, às vezes, o traço ou alguns traços que indiquem hábitos da vida local, seja no que diz respeito à alimentação, seja sobre usos e costumes ligados a afazeres outros além do cozinhar e comer, como vestir, calçar e se divertir, porque, caso prestemos bem atenção no que vemos nas feiras livres, nelas podemos nos deparar com alguns indicativos desses afazeres cotidianos.







Na primeira visita que eu fiz à cidade de Piranhas, em Alagoas, uma encantadora cidade localizada às margens do Rio São Francisco e que dista a cerca de 221 km da capital, me informaram que na parte alta e nova daquele burgo, afastada do seu centro histórico, acontecia uma feira livre aos domingos.

E assim foi que, na manhã do domingo 17 de dezembro de 2017, eu deixei a pousada onde me encontrava alojado e segui de carona com Augusto César, um sergipano de Propriá que eu conhecera um dia antes, até o bairro de Nossa Senhora da Saúde a fim de poder conhecer e aproveitar a feira livre daquele lugar.







Montada num pátio imenso e contando com um Mercado Público onde só eram comercializados carnes e peixes, a feira livre, naquele domingo, não me pareceu estar num dos seus dias mais concorridos. Talvez o grosso da população que a frequentava estivesse deixando para fazer as compras mais próximo do Natal, que era dali a poucos dias.

Com a curiosidade de sempre ou de quase sempre eu fui percorrendo as alamedas formadas entre as fileiras dos bancos dos feirantes, que eram confeccionados com madeira e aço. À venda, uma imensa variedade de produtos: frutas, verduras, legumes, utensílios domésticos, roupas, calçados, feijão, farinha, comidas prontas e até botijão de gás. Tudo exposto aos olhos dos fregueses em potencial.

Caminhar por uma feira livre exige de nós o aguçamento de nossos sentidos, porque uma feira livre demanda de nós não somente a visão e o tato, mas também o a audição, o olfato e o paladar, porque todo o universo que compõe uma feira livre é impregnado e rico de uma profusão de cores, sons, texturas, cheiros e sabores, de modo que não dá para apreciar tudo o que ela tem sem que deixemos os nossos cinco sentidos bem aguçados.

Nesses passeios por feiras livres inevitavelmente chegam à minha lembrança imagens de outras feiras que eu conheci. E, nesses momentos, eu costumo fazer toda espécie de comparação: tipos de bancos dos feirantes; variedade de produtos; o modo como as mercadorias são dispostas nos bancos e mesmo no chão; que tipos de comidas prontas são comercializadas; se a feira é muito organizada e/ou desorganizada; a quantidade de pessoas circulando por elas; o tempo de duração; se a feira é do tipo monta e desmonta ou se segue durante toda a semana; a dimensão dos espaços que elas ocupam; etc.









Aparentemente as feiras livres são todas iguais; mas elas não são iguais. Aqui e ali, numa e noutra você nota que existem peculiaridades e particularidades que, por vezes, torna uma diferente da outra. Em muitas cidades as feiras livres continuam sendo um grande acontecimento socioeconômico e em outros não, devido a uma série de fatores, tais como: a Municipalidade mudou a feira de um lugar para outro, provocando não só a perda de identidade do local como também causando descontentamento tanto de feirantes como dos seus fregueses e frequentadores, que se recusam a ir para outro espaço por razões como a dificuldade de deslocamento e a distância em relação às áreas de suas moradias; e o que talvez seja o ponto mais importante: a mudança de hábitos que várias famílias adotaram a partir do aparecimento e difusão dos grandes supermercados que abrigam não somente seções de hortifrutigranjeiros, mas também açougues, padarias e toda sorte de produtos de vestuário e utilidades domésticas e tudo mais; esses supermercados e esses atacadões onde quase tudo é encontrado tiraram muito do público que frequentava as feiras livres, fazendo com que muitas delas tenham perdido a grandeza e o prestígio dos quais gozavam em outros tempos.











Duas coisas ruins aconteceram com relação à minha visita à feira livre da cidade de Piranhas: devido a uma carona que me levaria até Aracaju, eu não pude me demorar naquele espaço o tempo que eu gostaria de ter ficado para poder conhecê-lo com mais vagar e inteireza; e, ao chegar a minha casa, depois de vários dias de viagem, eu me dei conta de que perdera a maioria dos registros fotográficos que eu fizera da feira. Uma verdadeira lástima.



Contudo, a experiência de ter estado na feira livre piranhense, ainda que por um breve tempo, se somou à minha, digamos assim, coleção de visitas a feiras livres, algo que em mim permanece como um grande fascínio independentemente das mudanças de hábitos não só de consumo como também de onde comprar para consumir.

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