Por Sierra
Nossa Senhora da Saúde (Piranhas - AL). Quem diz que não gosta de vivenciar o vuco-vuco e o bulício de uma feira livre é porque, eu acredito, a pessoa não se deixa envolver pela atmosfera toda desse acontecimento social que costuma ser um dos pontos marcantes do dia a dia de muitos lugares.
Durante as minhas viagens eu, sempre que posso, visito feiras livres com a curiosidade bem elevada, buscando encontrar nelas, às vezes, o traço ou alguns traços que indiquem hábitos da vida local, seja no que diz respeito à alimentação, seja sobre usos e costumes ligados a afazeres outros além do cozinhar e comer, como vestir, calçar e se divertir, porque, caso prestemos bem atenção no que vemos nas feiras livres, nelas podemos nos deparar com alguns indicativos desses afazeres cotidianos.
Na primeira visita que eu fiz à cidade de Piranhas, em Alagoas, uma encantadora cidade localizada às margens do Rio São Francisco e que dista a cerca de 221 km da capital, me informaram que na parte alta e nova daquele burgo, afastada do seu centro histórico, acontecia uma feira livre aos domingos.
E assim foi que, na manhã do domingo 17 de dezembro de 2017, eu deixei a pousada onde me encontrava alojado e segui de carona com Augusto César, um sergipano de Propriá que eu conhecera um dia antes, até o bairro de Nossa Senhora da Saúde a fim de poder conhecer e aproveitar a feira livre daquele lugar.
Montada num pátio imenso e contando com um Mercado Público onde só eram comercializados carnes e peixes, a feira livre, naquele domingo, não me pareceu estar num dos seus dias mais concorridos. Talvez o grosso da população que a frequentava estivesse deixando para fazer as compras mais próximo do Natal, que era dali a poucos dias.
Com a curiosidade de sempre ou de quase sempre eu fui percorrendo as alamedas formadas entre as fileiras dos bancos dos feirantes, que eram confeccionados com madeira e aço. À venda, uma imensa variedade de produtos: frutas, verduras, legumes, utensílios domésticos, roupas, calçados, feijão, farinha, comidas prontas e até botijão de gás. Tudo exposto aos olhos dos fregueses em potencial.
Caminhar por uma feira livre exige de nós o aguçamento de nossos sentidos, porque uma feira livre demanda de nós não somente a visão e o tato, mas também o a audição, o olfato e o paladar, porque todo o universo que compõe uma feira livre é impregnado e rico de uma profusão de cores, sons, texturas, cheiros e sabores, de modo que não dá para apreciar tudo o que ela tem sem que deixemos os nossos cinco sentidos bem aguçados.
Nesses passeios por feiras livres inevitavelmente chegam à minha lembrança imagens de outras feiras que eu conheci. E, nesses momentos, eu costumo fazer toda espécie de comparação: tipos de bancos dos feirantes; variedade de produtos; o modo como as mercadorias são dispostas nos bancos e mesmo no chão; que tipos de comidas prontas são comercializadas; se a feira é muito organizada e/ou desorganizada; a quantidade de pessoas circulando por elas; o tempo de duração; se a feira é do tipo monta e desmonta ou se segue durante toda a semana; a dimensão dos espaços que elas ocupam; etc.
Aparentemente as feiras livres são todas iguais; mas elas não são iguais. Aqui e ali, numa e noutra você nota que existem peculiaridades e particularidades que, por vezes, torna uma diferente da outra. Em muitas cidades as feiras livres continuam sendo um grande acontecimento socioeconômico e em outros não, devido a uma série de fatores, tais como: a Municipalidade mudou a feira de um lugar para outro, provocando não só a perda de identidade do local como também causando descontentamento tanto de feirantes como dos seus fregueses e frequentadores, que se recusam a ir para outro espaço por razões como a dificuldade de deslocamento e a distância em relação às áreas de suas moradias; e o que talvez seja o ponto mais importante: a mudança de hábitos que várias famílias adotaram a partir do aparecimento e difusão dos grandes supermercados que abrigam não somente seções de hortifrutigranjeiros, mas também açougues, padarias e toda sorte de produtos de vestuário e utilidades domésticas e tudo mais; esses supermercados e esses atacadões onde quase tudo é encontrado tiraram muito do público que frequentava as feiras livres, fazendo com que muitas delas tenham perdido a grandeza e o prestígio dos quais gozavam em outros tempos.
Duas coisas ruins aconteceram com relação à minha visita à feira livre da cidade de Piranhas: devido a uma carona que me levaria até Aracaju, eu não pude me demorar naquele espaço o tempo que eu gostaria de ter ficado para poder conhecê-lo com mais vagar e inteireza; e, ao chegar a minha casa, depois de vários dias de viagem, eu me dei conta de que perdera a maioria dos registros fotográficos que eu fizera da feira. Uma verdadeira lástima.
Contudo, a experiência de ter estado na feira livre piranhense, ainda que por um breve tempo, se somou à minha, digamos assim, coleção de visitas a feiras livres, algo que em mim permanece como um grande fascínio independentemente das mudanças de hábitos não só de consumo como também de onde comprar para consumir.
 
 
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