13 de fevereiro de 2021

Fantasia de Carnaval

Por Clênio Sierra de Alcântara


Foto: Internet
É claro que quem gosta mesmo de Carnaval adoraria estar por aí agora  batendo perna e se divertindo à beça; mas, em tempos de pandemia, Carnaval fica para depois. Cuidemo-nos porque todo ano tem Carnaval e a vida a gente só tem uma


 

Faz de conta que é Carnaval e que você está subindo e descendo as ladeiras de Olinda e de Ouro Preto; seguindo um trio elétrico em Salvador; acabando-se nas ruas do centro do Recife acompanhando o Galo da Madrugada; torcendo pela Vai-Vai ou pela Gaviões da Fiel em São Paulo; e vibrando com a Beija-flor, a Portela e a Mangueira no Rio de Janeiro.

Faz de conta que é Carnaval e que você se arrumou e se enfeitou todo e está curtindo o Baile Municipal de sua cidade; aplaudindo a apresentação dos caboclos de lança e do maracatu rural em Nazaré da Mata; pulando frevo em Neópolis, à beira do Rio São Francisco; zunindo com as Muriçocas do Miramar em João Pessoa; imitando os papangus de Bezerros e os caretas de Triunfo; correndo pelas ruas de São Luís com os trajes de Fofão; e arrasando e lacrando tudo no desfile das Catraias na Ilha de Itamaracá.

Faz de conta que é Carnaval e que você vestiu uma linda fantasia ou o vestido de sua esposa ou a cueca do seu marido e foi para a rua da sua casa, na maior greia, brincar até não aguentar mais; que você está beijando muuuuuuuuito um boy magia que encontrou por aí perdido no meio da multidão ou aquela bad girl com carinha de princesa à qual você ofereceu uma long neck estupidamente gelada; e que você foi se juntar aos seus amigos para cantar no Bloco da Saudade ou no Cordão da Bola Preta.

Faz de conta que é Carnaval e a alegria está a mil ao som de frevo, axé, samba, afoxé e maracatu; que o Homem da Meia-Noite daqui a pouco vai sair; que você está no Baile dos Artistas ou no Gala Gay bem fechante e achando tudo óooooooootimo; que você se fantasiou de Bucetinha Inacreditavelmente Virgem e de Cuzinho Ainda Apertadinho só para sair com a turma do Bloco Mole Não Entra e, depois, dar uma esticadinha - dá mesmo, visse?! - no Nóis Sofre Mas Nóis Goza; que a sua maquiagem borrou toda, a sua sunga rasgou, o seu tapa-sexo caiu e você nem se importou com isso; que você comprou uma fantasia de coronavírus só para ver se dão uma seringada em você não no seu braço e sim na sua bunda; que lhe avisaram que amanhã é Quarta-feira de Cinzas e você continua solto na buraqueira, dizendo que começou a brincar na Quarta-feira de Fogo e que o seu Carnaval só termina quando acaba.

Faz de conta que é Carnaval; que a sua alegria é tudo que há; que você não está nem aí para o que os outros vão pensar, porque, afinal, o que realmente você quer é que os outros pensem mesmo; que o tempo de ser feliz e de curtir o que se quer é agora e não depois; que você esqueceu a letra da canção mas continua cantando; e que você não perdeu o bonde coisíssima nenhuma, porque o desejo, o prazer, a satisfação e a fantasia da vida valem muito apesar, apesar, apesar, apesar, apesar e apesar de tudo, inclusive, de quem não gosta de você e nem do Carnaval.

Roda, roda, roda e avisa que sem vacina a pandemia vai continuar.

Alô, alô Zezinho e Terezinha, ai que saudade daquela chupadinha.


2 comentários:

  1. Perfeito texto. Apenas lembranças do nosso carnaval.

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  2. O texto é perfeito e reflete bem o egoísmo de uma minoria . O carnaval, a festa mais popular do país, parece mais urgente na vida desta pessoa, que a frase deste período é no tô nem aí pra te que perdeu a pessoa amada. Esse faz de conta de que é carnaval, se confunde com a soberba e o descaramento de não se importar com outros... nesta faz de conta vamos levando e empurrando este jaz de vida.

    Belo texto...

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