24 de julho de 2021

Dom Bolsonaro Quixote e os seus Sanchos Panças

 Por Sierra

 

Não sejamos levianos de tomar as Forças Armadas pelo que são e/ou estão apresentando de ruim e de ameaçador uns e outros militares que integram o desgoverno do senhor Jair Bolsonaro. Por outro lado, não sejamos tão ingênuos a ponto de acreditar que as ameaças e as intimidações são só e somente só bravatas e nada mais, porque, diferentemente do que diz a máxima, cão que late também morde



No espaço de uma semana todo bichinho de cabelo que olha para o mundo à sua volta sem estar confinado em bolhas de grupos de WhatsApp – desde já saibam que eu detesto todo e qualquer grupo de WhatsApp; portanto, não me incluam em nenhum deles – viu, novamente, do que são capazes de fazer os ditos “homens bons’ do presidente da República Jair Bolsonaro. Muito embora o que temos visto desde antes do pleito eleitoral de 2018 – quem consegue esquecer a ameaça feita via Twitter pelo general Eduardo Villas Bôas ao Supremo Tribunal Federal? – negue em absoluto, tal epíteto, Seu Jair continua se referindo aos membros das Forças Armadas como se eles fossem o suprassumo da sociedade e os elementos, por assim dizer, definidores do que deve valer ou não em termos de boa governança e de conduta para o país, militares que – às centenas, aos milhares – conseguiram um lugarzinho no desgoverno de Seu Jair vêm protagonizando – e/ou sendo coadjuvantes – episódios reveladores do desprezo que uma parte deles tem para com os fundamentos da democracia e a disposição que vários deles demonstram para tornar um pouco mais macabra a atuação do psicopático e esquizofrênico ocupante do Palácio do Planalto.

De participação em protestos antidemocráticos a ameaças veladas ou escancaradamente abertas em notas e em entrevistas passando por envolvimento em tramas obscuras, como as que a Comissão Parlamentar de Inquérito em curso no Senado vem revelando, os militares, os tais “homens bons” e fiéis escudeiros, os Sanchos Panças de um tresloucado Dom Bolsonaro Quixote, ao que parece, estão muito dispostos a defender cegamente os desatinos de um governante inimigo da democracia e personificação do que de pior uma figura pública encarna, que é a de ser o catalisador de retrocessos.

Na semana passada o senhor general Hamilton Mourão foi oficialmente a Angola participar da XIII Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Ocorreu que, extraoficialmente ou oficialmente também, o general Hamilton Mourão, que calha de ser o vice-presidente deste Brasil, aterrissou em terras angolanas para interceder em favor dos interesses de Edir Macedo, uma das personalidades mais controversas que já surgiram neste país, que é líder da Igreja Universal do Reino de Deus, uma instituição que, sob a acusação de racismo, lavagem de dinheiro e de outras práticas nada cristãs, vem sendo escorraçada daquele país africano. Edir Macedo, que diz o diabo de crenças religiosas que lhe são concorrentes, é um legítimo integrante daquilo que acertadamente Fábio Porchat denominou de “milicianos da fé”, uma gente mau caráter e arrivista que faz uso da Bíblia para encher suas burras. Foi esse tipo de gente que o governo brasileiro foi defender em Angola com medo de que Edir Macedo comece a dizer a seus seguidores que Seu Jair é um enviado do demônio e não merece o voto deles. Pragmatismo eleitoral e fanatismo religioso são capazes de tudo para resolver suas paradas; e eles estão andando de mãos dadas nesse desgoverno.

Anteontem, esticando um pouquinho mais a corda – os militares alojados no desgoverno adoram a expressão “esticar a corda” – do cadafalso em que eles puseram a democracia, foi a vez do senhor general Braga Netto, uma espécie de cão de guarda mais do que prepotente e raivoso que também faz as vezes de ministro da Defesa, aparecer no noticiário negando, vejam só, uma reportagem publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo segundo a qual ele fizera chegar ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, a ameaça – que outra palavra usar?! – de que, sem a aprovação da proposta de que os votos nas próximas eleições gerais sejam impressos, como quer Seu Jair, os pleitos não ocorrerão.

Não é preciso ser um oposicionista para enxergar o grau de degradação a que chegou o poder executivo central neste país. Jair Bolsonaro, eleito sob um discurso antipetista e anticomunista, que significa dizer antiditatorial, quer ele próprio ser o ditador do momento, pensando que pode fazer e acontecer, ignorando por completo o Legislativo e o Judiciário, porque, supostamente, ele tem as Forças Armadas – o “meu Exército”, como ele costuma dizer – para apoiar as decisões que ele tomar, os absurdos que ele propor, os insultos que ele disser e as vilezas que ele praticar que, como todos nós sabemos, são feitos em nome de Deus. Os militares que ferozmente o apoiam, dado o histórico que as Forças Armadas têm de intervenção em diversos momentos da vida pública nacional, devem pensar que estão a zelar pelo bem da sociedade ou como eles costumam dizer pela soberania nacional.

Não sejamos levianos de tomar as Forças Armadas pelo que são e/ou estão apresentando de ruim e de ameaçador uns e outros militares que integram o desgoverno do senhor Jair Bolsonaro. Por outro lado, não sejamos tão ingênuos a ponto de acreditar que as ameaças e as intimidações são só e somente só bravatas e nada mais, porque, diferentemente do que diz a máxima, cão que late também morde.

Enquanto o desgoverno de Seu Jair vai, à sua maneira, mantendo acesa a chama da polarização do “nós contra eles” e convencendo os seus apoiadores militares a ameaçar e a fustigar os pilares da democracia, o coronavírus, que não é um moinho de vento e nem uma farsa, vai dia a dia irrefreavelmente ceifando vidas. A pandemia é uma realidade concreta, brutal e desoladora e não faltam Sanchos Panças para compartilhar os desatinos, as perversidades e os retrocessos de Dom Bolsonaro Quixote que insistentemente a trata como uma coisinha à toa. Não chegamos ainda ao fundo do poço, mas não falta muito.

Um comentário:

  1. O escárnio escancarado a toda nação. Ditador e responsável por mais de 500 milhão de mortos no Mimi da luta cloroquina x ciência. A barbárie sangrenta.

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